sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Vamos contar espingardas/manifestantes como deve ser!

Citações.

«As notícias chegam de Espanha, de uma manifestação (por acaso de direita, mas com a esquerda seria o mesmo) contra o aborto. Estimaram os organizadores: 2 milhões. A Comunidad de Madrid (do PP, próxima dos organizadores): 1,2 milhões. A polícia: 250 mil. Extraordinária diferença! Mas ainda não viram nada. A empresa Lynce, especialista do assunto, pôs um zepelim no ar, com quatro câmaras de alta resolução e dois vídeos de alta definição. E não estimaram, contaram: 55 316 cabeças! A ciência lá nos deu cabo de mais uma ilusão.»

Ferreira Fernandes, DN, 29.10.09


Ah se a moda pega, se um olho de Lynce começa a contar manifestantes por cá. Lembram-se das manifestações contra a União Europeia, no dia da assinatura do Tratado de Lisboa, que congregaram 200 mil pessoas em Lisboa e 100 mil no Porto? Ou dos ajuntamentos patrióticos de professores contra os propósitos fascistas de sujeitarem as progressões na carreira a avaliações de desempenho? Pois são sempre 200 mil em Lisboa e 100 mil no Porto! E os jornais confirmam.


Nada de extraordinário, já era assim no PREC. Estive a reler há dias Álvaro Cunhal, "A Revolução Portuguesa - O Passado e o Futuro", edições Avante, 1976. Pois as "grandiosas concentrações de massas" de apoio a Vasco Gonçalves, ou, se se preferir, "as grandes mobilizações populares" de "contenção da ofensiva da reacção", convocadas pela Cintura Industrial de Lisboa, reúne, em 16-11-75, "no Terreiro do Paço cerca de 200 mil pessoas" e quatro dias depois "100 mil, em Belém" (pág. 167).


Também foram de 200 mil em Lisboa e de 100 mil no Porto, as manifestações que "partiram os dentes à reacção" no 28 de Setembro, e de 200 e 100 mil as celebrações da vitória sobre a intentona do 11 de Março, que, lembremos, conduz à nacionalização da banca pelo Conselho da Revolução a 13 de Março, no dia em que "o cérebro e a mão de ferro do capitalismo monopolista sofreram um golpe mortal" - Cunhal dixit.


Uma excepção, a manifestação de 14 de Janeiro de 1975 pela unicidade sindical reuniu "300 mil trabalhadores" (Cunhal, obra citada, pág. 89). Só para esmagar a concentração do PS, contra a mesma unicidade, que dois dias depois pôs o Pavilhão Carlos Lopes a deitar para fora!


Em suma, há 35 anos que é assim: são sempre 200 mil em Lisboa, excepcionalmente 300 mil, os comunistas do Bloco e do PCP só sabem contar em múltiplos de 100 mil, com as televisões, as rádios e os jornais (mais agora do que em 75, aliás) a contar e fazer crescer os múltiplos de cem mil. A falta que nos faz o exemplo de Espanha!

1 comentário:

  1. Sempre achei estranho que o Bloco conseguisse mobilizar 300 mil pessoas em Lisboa e Porto mas em todo o pais tenha 166.741 votos... Sera que a malta que se da ao trabalho de sair de casa para ir para uma manifestaçao do bloco chega às urnas e vota PS? Ou será que o Bloco nao sabe contar? É capaz de ser a primera é...

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