terça-feira, 30 de novembro de 2010

Governador do BdP a arranjar lenha para o Spiegel

Vale a pena seguir o link que o Câmara Corporativa revela no post "Por que no te callas ?" : as declaração do Governador Carlos Costa são uma dádiva para o Spiegel e achas na fogueira ateada pela Srª Merkel, apostada em arranjar negócios cada vez mais chorudos para os seus bancos, que não recebem mais de 2,5% quando subscrevem, com relutância, títulos da dívida alemã.

Há, aliás, outros links da máxima actualidade no mesmo Câmara Corporativa. Por exemplo este com Portugal e Espanha a arder, e alguns pirómanos internos a atiçar o fogo, já começou a ofensiva que há-de queimar também a Itália e a Bélgica e em seguida a França.

Como diz Paul Krugman: estaríamos muito melhor se não estivéssemos prisioneiros do euro.

Chantagem dos media ingleses: "dêem-nos o Mundial e a gente cala-se". E nós? Boicotamos o Mundial se for em Inglaterra?


Atenção, senhores da FIFA, Vêm aí uma guerra de guerrilha que nem no Afeganistão. British media preparing open season on corrupt Fifa at long last. Isto é, vai abrir a época da caça aos decisores da Fifa. Que "não há no mundo ninguém mais duro e vingativo do que os media britânicos" ─ ameaça hoje o site inglês footylatest.

E que no caso mais do que provável de não lhes ser concedida a organização do Mundial de 2018, "iremos atrás deles com tudo o que temos, e dispomos de provas mais do que suficientes para mostrar que a FIFA é corrupta até ao tutano": there is more than enough documented proof out there showing that Fifa is corrupt to the bone.

Questão: "Se têm tantas provas de corrupção na FIFA, porque não mostraram algumas no tal Programa da BBC dois dias antes do voto?". De facto, a maioria dos jornais ingleses reconhece que as acusações dos investigadores do Panorama são antigas (têm mais de dez anos): Incredibly the programme only re-hashed old claims ─ diz o The Sun. Mais: foram investigadas, e, sobretudo, não têm nada a ver com o actual processo de atribuição do Mundial.

No qual, dizem vários jornais ingleses, tudo indica que irá terminar com a vitória da Rússia, com Portugal e Espanha, em segundo lugar, e os ingleses apenas em terceiro. Por isso, mandam hoje a Zurique o Primeiro Ministro David Cameron, que será seguido amanhã pelo Príncipe William. Todos os que votarem pela Inglaterra terão direito a um dos 100 convites, que vão ser "sorteados", para o casamento do futuro Rei?

A cenoura e o bastão - eis a estratégia inglesa. Infelizmente, acrescentam os mesmos jornalistas,"alguns dirigentes da FIFA não parece darem-se conta das consequências" de uma decisão não favorável às pretensões britânicas. Infelizmente, porque, e cito no original, "all of the allegations would have died down if England were awarded the tournament".Isto chama-se chantagem: se têm algo a esconder, dêem-nos o Mundial e a gente cala-se.

Em suma, vale tudo, os ingleses não têm mesmo vergonha nenhuma e os outros concorrentes são parvos ou fazem-se. Donde a minha proposta: se este crime de ameaças, que o é, for premiado, Portugal e Espanha, e todos os que jogaram limpo, deviam boicotar o Mundial de 2018 em Inglaterra.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Todos grandes educadores

A campanha de Alegre patina, não sai do sítio, que o punho do PS não se levanta. Por este andar, vamos ter Cavaco eleito com mais de 60% à primeira volta, o que tendo em conta o desempenho do personagem é uma vergonha para todos os oponentes. "Os mais próximos companheiros de armas de Manuel Alegre" já começam a alijar as próprias responsabilidades e a apontar para o lado: a culpa, obviamente, é de Sócrates e do seu PS, deles é que não.

Ana Gomes (sem link, que o não merece) foi a primeira a espingardar: "Remodele, JÁ". Sócrates não lhe fez a vontade, pagará por isso. O motim continuou com o próprio MNE Luís Amado a exigir ser remodelado, o que só peca por tardio, devia ter exigido isso mesmo no dia a seguir às eleições, que não é curial um governo minoritário arcar sozinho com a impopularidade das medidas a tomar.

"Motim, Sire? Mas isto é uma revolução". Agora, é Vera Jardim, um bispo do PS, habitual pregador na Renascença, a dedicar a Sócrates uma homilia dominical: "remodele, já". En passant, é porque Sócrates não remodelou, ainda, que o PS assobia para o lado e não há maneira de se empolgar com Alegre e os eleitores também não.

A campanha de Alegre, de facto, não sai da cepa torta. E quem vai pagar as favas é Sócrates e o seu PS. Marcelo Rebelo de Sousa, analista isento (o que a gente se ri...), logo saltou sobre esta oportunidade de matar dois coelhos de uma cajadada: enterrar Alegre e acirrar as intrigas do PS: "Remodelação já, este Governo não vai lá"

Rima, está encontrada a palavra de ordem, a procissão ainda vai no adro. Maria de Belém deve ser a próxima fazer de grande educadora do Primeiro-Ministro.

domingo, 28 de novembro de 2010

Ditosa Pátria


Um amigo mandou-me um poema de Jorge de Sena. Escrito no exílio, na desesperança do ano de 1961, quando Humberto Delgado acabava de ser expulso das Forças Armadas e se refugiara no Brasil, quando Henrique Galvão tomava o Santa Maria, quando o MPLA atacava as cadeias de Luanda e a UPA massacrava no Norte de Angola, quando Goa, Damão e Diu eram ocupadas pela União Indiana, quando a revolta de Beja não dava em nada, quando as cadeias estavam cheias a rebentar de presos políticos, quando Salazar parecia eterno, quando o Dia do Estudante desencadeava uma repressão feroz. Poema datado? Talvez. Vejam bem:

A Portugal

Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
a pouca sorte de ter nascido nela.

Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.

Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fátua ignorância;
terra de escravos, cu p’ró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol caiada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra − museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:

eu te pertenço. És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço: mas ser’s minha, não.


Dezembro de 1961

in «Quarenta Anos de Servidão» Lisboa, 1979


Passaram quase 50 anos sobre o poema de Sena. Hoje voltamos talvez a poder dizer "esta é a ditosa Pátria minha amada".
  • A minha Pátria do PS e dos bons empregos para tapar manobras internas (caso Víctor Baptista),
  • a minha Pátria do PS e dos honorários chorudos por coisa nenhuma (Tagus Park e escritório José Miguel Júdice),
  • a minha Pátria do PS e dos salários milionários a pequenos gestores da cultura (Guimarães capital da cultura).
Mas também
  • a minha Pátria de Alberto João Jardim sempre perdoado apesar de reincidente nos insultos a quem lhe dá de comer,
  • a minha Pátria de Pacheco Pereira, sempre na vanguarda dos seus aliados do Ministério Público,
  • a minha Pátria de Belmiro de Azevedo & filhos feitos com a conspiração castelhana na Opa da PT por causa da Vivo,
  • a minha Pátria de Cavaco Silva, sempre bajulado apesar dos seus negócios particulares no BPN, aliás em sintonia total com o PSD, pelo menos na inventona das escutas.


sábado, 27 de novembro de 2010

FMI nosso que estais no Céu

Passos Coelho já fala de ser Primeiro-Ministro com a bênção do FMI, a quem aparece a rezar hoje na 1ª Página do Expresso, que perspectiva empolgante! Bem sei que os media, em coro, já lhe cantam hossanas, mas, como os franceses costumam dizer, "não se deve vender a pele do urso antes de o ter matado". Balsemão, Belmiro, Cavaco e Portas, por esta ordem, mandam muito, sobretudo na comunicação social. Mas não são, ainda, os donos dos votos todos.

Preocupa-me mais o que se passa aqui ao lado, à oitava economia do mundo, com uma dívida pública que é das mais pequenas da União Europeia, mas nem por isso menos acossada, flagelada, encostada à parede, pelo eixo franco-alemão do capital:
  • ABC. es: "El Rey convoca a Salgado (ministra do Economia) ante lo acoso de los mercados a España"; Zapatero busca el compromiso de los empresarios para crear empleo...
  • Público.es: "Ofensiva para calmar a los mercados. Más transparencia contra la especulación. El Gobierno obliga a la banca a revelar nuevos datos de sus activos imobiliários. Las principales empresas acuden hoy a la llamada de Zapatero.
  • El Pais: "El Gobierno intenta aplacar los mercados com más transparencia". Zapatero se reúne com los empresarios en plena tormenta de los mercados.
Tormenta, acosso, o Rei que convoca uma ministra à Zarzuela (fá-lo uma vez todos os dez anos), Rajoy e Pons , do PP, que falam da ruína de Espanha, Almunia, o comissário espanhol em Bruxelas, que tem duvidas sobre o Governo do seu camarada Zapatero.

Ora bem, estamos no mesmo barco de Espanha, somos a Ibéria Unida, e não só para o Campeonato do Mundo, para o bem e para o mal, queiramos ou não. Passos a rezar ao FMI é como ao outro. Rajoy é um caso mais sério. Que se trata de um político de direita que foi capaz de ler mais de página e meia de um livro de Saramago e, presumivelmente, até sabe quantos cantos têm os Lusíadas.


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O triunfo dos especuladores


Pois regresso às lides. Àquela meia dúzia de leitores que repararam na minha ausência e me perguntaram as razões do meu silêncio, eu respondo: tirei férias, umas férias de nojo. Não que me tenha morrido alguém, desta vez não. Mas sinto que me estão a morrer todos os dias as ilusões: cada vez confio menos na União Europeia, nas vantagens do euro, no futuro da Pátria, nas glórias do Benfica.

Pois riam-se à vontade. A dura realidade é que vivemos numa espécie de "animal farm" e vamos assistindo impávidos ao "triunfo dos porcos". Depois da Grécia e da Irlanda, os capitalistas arrebanhados pela srª Merkel e pelo sr. Sarkozy (eles não nos querem no euro) começam a assetar baterias contra Portugal, e lá têm as suas razões (sei do que falo: viajo, falo línguas, e como dizia a Sophia, "vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar"). Temos...
  • a extrema esquerda parlamentar mais poderosa, e mais ouvida, nos media, do Atlântico aos Urais,
  • um Governo fraco, minoritário, sem ânimo nem força, cuja única missão, a única que os jornalistas lhe consentem, é fazer o papel de saco da porrada no agit-prop permanente das televisões e jornais,
  • um Presidente que apadrinha inventonas contra o Governo, que beneficia de negócios de acções, como no BPN, e passa os dias aos saltos nos média, a arrotar postas de pescada, "génio das banalidades" (ah, que saudades do Saramago!), ou, como se diz na minha terra, um lameirinho bem regado, de presunção e água benta,
  • uma Justiça sindicalizada, barriguda, corporativizada, preguiçosa, de fugir, que é um perigo para os cidadãos e para as actividades económicas.
E por aí adiante, foi por isso que tirei férias. Pois não melhorou nada desde que deixei de escrever, a prova de que a culpa não era minha. Ontem, regressado de Madrid (magnífico, sempre), fugi mais uma vez das televisões portuguesas e dos jornais (também para não ouvir os abutres sobre a derrota do Benfica em Israel!) acabei por fixar-me na Deutsche Welle como barulho de fundo.

Pois que dizem os sequazes da srª Merkel (que saudades de Helmut Khol!)? Que Portugal vem a seguir, já que se encontra em "deep recession"! É mentira, crescemos pouco mas crescemos, no último trimestre. Apesar do alarmismo que espalha a nossa extrema direita. Apesar da agitação da extrema esquerda.

E por falar de extrema esquerda: escrevo este post com a televisão ligada na CNN. Sabem qual uma das notícias em destaque, hoje, três dias passados sobre a greve geral? Esta: "Portuguese
workers take strike". Ainda? Nem mais: há notícias que rendem, rendem. Até que os capitalistas alemães e franceses ferrem o dente no que resta da carne. Ficam-nos os ossos.
Com esta extrema esquerda, com estes magistrados, com estes jornalistas de agit-prop - valerá a pena continuar no euro? Tenho muitas dúvidas.