domingo, 28 de março de 2010

Alegre acumula pensões e Cavaco também

Do NIKADAS, com o título Acumulação de pensões do Estado, a dobrar, sobre os casos de Manuel Alegre, uma, para que contribuiu a RDP durante 30 anos, outra, subvenção vitalícia, concebida para ex-parlamentares em dificuldades económicas, que o Parlamento lhe paga, sem se pôr perguntas. Há também o caso especial de Aníbal Cavaco Silva, que acumula duas pensões com o seu ordenado de Presidente da República. Leia e medite. Ah, como eles têm razão, quando falam dos privilégios dos outros!
Manuel Alegre - o homem que recentemente se indignou com os prémios anuais auferidos pelos gestores de empresas participadas pelo Estado - acumula duas pensões do mesmo Estado. Uma reformamais uma subvenção vitalícia. Não se indigne já o meu caro leitor com esta acumulação de Alegre, porque lhe pode custar caro. O Supremo Tribunal de Justiça não dorme e não permite que se desdoure o bom nome dos acumuladores.
(...)
Continue a ler, que se vai espantar. No NIKADAS, que fez o trabalho de casa.

sábado, 27 de março de 2010

A malta abrupta não gostou? Ainda bem

Pelo menos não tem aquele ar boçal, seboso, luzidio, asfixiado, claustrofóbico, doentio, agressivo, prejudicado, carroceiro, do outro candidato. Pedro Passos Coelho fez um discurso civilizado, fluente, a prometer luta franca, sem ódios, mas também sem cumplicidades. Oxalá!

Penso que fez bem, que pode ter conquistado algum interesse entre gente razoável, foi uma inovação ver um homem tranquilo nesta nossa política abespinhada. A prova é que aquela rapaziada do Público, a malta abrupta ─ das escutas a Belém, do Portugal profundo, do justicialismo desembestado, dos julgamentos na praça pública, à Paulo Portas, um pé no Ministério Público e os dois nas manchetes dos jornais ─, essa malta, não gostou.

Estou a ouvir a RTPN e já passei pela SIC Notícias: a canalha da agitação e propaganda ficou frustradíssima com Passos Coelho. É um bom sinal.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Spiegel defende resignação do Papa


O que está em causa é a falibilidade deste Papa Infalível. Perante as provas de que o Cardeal Joseph Ratzinger, como arcebispo de Munique e depois como Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, participou no encobrimento (promoveu ou consentiu!) de vários crimes de pedofilia de padres da Igreja Católica, como tem sido revelado pela
BBC, pelo New York Times, várias vezes, e por toda a grande imprensa internacional, a revista alemã Der Spiegel defende que chegou o momento de Bento XVI resignar. Por muito menos resignou em Fevereiro a líder da Igreja Protestante alemã. Por isto:
Allegations that Pope Benedict XVI may have had detailed knowledge about instances of sexual abuse in the Catholic Church continue to mount. In 1996, the Congregation for the Doctrine of the Faith, which he then led, decided not to punish the pedophile priest Father Lawrence Murphy. With his authority eroded, why does he even remain in office?

When is it time for a pope to resign? Margaret Kässmann, the former head of the Protestant Church in Germany, stepped down in February upon deciding that she no longer had the necessary moral authority for her office after being caught driving drunk. But how much authority does Pope Benedict XVI still enjoy?

(...)

E por muito mais. Leia aqui a continuação do artigo do Spiegel na sua versão inglesa. Em Portugal, o grande destaque, até ao momento, tem ido mais para a defesa do Papa.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Mais uma de Sua Santidade

Mais uma do Papa Bento XVI, revelada hoje no New York Times:
Students printed a “Most Wanted” poster, left, of a priest who molested as many as 200 deaf boys. Documents like the one at right show that the future Pope Benedict XVI and other Vatican officials declined to defrock him.
É este o Papa que legiões de jovens (!) portugueses vão receber com muito amor e carinho já no próximo dia 11 de Maio. Mais? Veja abaixo.

Vaticano encobriu pederastia dos padres ?


Isto sim é relevante: um documento da Igreja Católica em relação à pederastia dos seus padres revela a política oficial da Santa Sé que era designadamente ameaçar com a excomunhão as vítimas e as testemunhas que falassem dos casos e nunca e de modo nenhum denunciar os criminosos diante da Justiça dos homens, como era sua obrigação. À frente da Crimen Sollicitationis estava o Cardeal Joseph Ratzinger, como revelou a BBC:

A secret document which sets out a procedure for dealing with child sex abuse scandals within the Catholic Church is examined by Panorama.

Crimen Sollicitationis was enforced for 20 years by Cardinal Joseph Ratzinger before he became the Pope.

It instructs bishops on how to deal with allegations of child abuse against priests and has been seen by few outsiders.

Critics say the document has been used to evade prosecution for sex crimes.

Crimen Sollicitationis was written in 1962 in Latin and given to Catholic bishops worldwide who are ordered to keep it locked away in the church safe.

It instructs them how to deal with priests who solicit sex from the confessional. It also deals with "any obscene external act ... with youths of either sex."

It imposes an oath of secrecy on the child victim, the priest dealing with the allegation and any witnesses.

Breaking that oath means excommunication from the Catholic Church.

(...)


  • Estas revelações estão a ser largamente comentadas no Reino Unido, a favor e contra o Papa, nos Estados Unidos, até mesmo em Espanha. Em Portugal a norma é um silêncio envergonhado, o tal oath of secrecy, uma espécie de ommertá... Algum dia teremos a oportunidade de ver em Portugal a repportagem do Panorama da BBC?

quarta-feira, 24 de março de 2010

Portas e Fitch: o mesmo combate


Já não bastava termos a extrema esquerda parlamentar mais numerosa e espalhafatosa do Mundo ocidental. Já não bastava termos o PSD e o Bloco de Esquerda aliados na mesma guerrilha para debilitar o Governo. Agora é Paulo Portas irmanado com a agência de rating Fitch, a arranjar mais lenha para queimar a credibilidade do País.

sábado, 20 de março de 2010

Rio e Costa combinam quem ganha o campeonato


A alternância não é só na política. Chegou ao Red Bull, que vai realizar-se um ano em Lisboa, outro no Porto. E vai chegar ao futebol, conforme o acordo passado entre os dois presidentes de câmara. A notícia está no Inimigo Público, esta semana, e foi descoberta por Mário Botequilha. Que assim conta o que soube:

Campeão nacional também vai alternar entre Lisboa e Porto
18 18e Março Por Mário Botequilha

Rui Rio e António Costa, como as duas coreias ou o júri dos Ídolos, encontraram-se para fazer as pazes e resolver o desafio mais importante que se coloca ao poder autárquico do século XXI: a localização da Red Bull Air Race. O acordo é que os aviõezinhos vão fazer piruetas ora cá, ora lá e que, se tiverem de se espalhar, que o façam em Almada ou Matosinhos.

Mas há mais: Rio e Costa também acordaram que o campeão nacional de futebol passa a ser ora do Porto, ora de Lisboa. Ou seja, este ano é Benfica, para o ano é o FC Porto e daqui a 18 anos é o Sporting. MB

O acordo não abrange a Taça da Liga, pelo que amanhã ganha o Benfica pelo segundo ano consecutivo.


quinta-feira, 18 de março de 2010

Benfica é o clube com mais pontos na Europa

Ao ganhar esta noite no Velodrome ao Marselha, o Benfica é este ano o clube que mais pontos amealhou na Europa: 1 ponto na vitória da fase de qualificação, depois 7 vitórias, 2 empates, 1 derrota, isto é, 17 pontos ganhos no campo, mais do que o Fulham, o Lille, o Eindhoven, o Salzburg, que em campo fizeram 16.

Claro que se somarem os bónus (pontos ganhos na secretaria), o Benfica baixa para o 17º lugar, porque todos os apurados na Champions somam pontos extra: 10, além dos ganhos, para Bordéus, Manchester United, Lyon, Barcelona, Arsenal, Inter, Bayern, CSKA; 9, a mais, para Fiorentina, Real, Sevilha, Chelsea, FC Porto e Estugarda, porque chegaram aos oitavos da Champions; 5 para Wolfsburgo e Liverpool, só porque ficaram em terceiro lugar na fase de grupos da Champions.

Sem os bónus, o mais bem colocado de todos os da Champions é o Bordéus, com 15 pontos. O FCPorto, a título de exemplos, não fez este anos nas competições europeias mais do que 10 pontos.


Milan, Olimpiakos

terça-feira, 16 de março de 2010

Michael Foot: quando o Labour era pacifista e anti-europeu


Imagina que não há paraíso
nem inferno debaixo de nós.
Confia no que diz o teu juízo
Que lá acima é firmamento e só.
Imagina que toda a gente
Vive o seu presente.

Imagina só que não há países nem fronteiras,
e nem é difícil isto imaginar,
Nada há por que matar ou por que morrer,
nenhuma religião por que rezar.
Imagina que toda a gente
Vive em paz e contente.

Imagina que não há donos nem senhores,
Que não há razão para ganância ou fomes.
Imagina se puderes,
Imagina que são irmãos todos os homens
e todas as mulheres.
Imagina toda a gente a partilhar
O que o mundo inteiro pode dar

Dirás que sou um sonhador,
Sabe que somos muitos a sonhar
Que um dia virás juntar-te a nós
E que o mundo inteiro há-de cantar
e viver o sonho a uma só voz.

As palavras são do John Lennon, aqui em tradução livre, mas podiam aplicar-se a Michael Foot, o mais puro dos líderes trabalhistas britânicos, e também um dos mais incompetentes, que ontem desceu à terra, "imagino que..." a ouvir aquela canção dos Beatles.

Foot, trabalhista, foi estrela do movimento pacifista dos anos 50 e 60, contra a bomba russa tanto como contra a bomba americana, votou contra as despesas militares, em pleno governo trabalhista, perdeu e pagou o preço, lutou contra a guerra do Vietname, ao lado dos esquerdistas e comunistas europeus.

No princípio dos anos 70, liderou a campanha dos trabalhistas contra a CEE capitalista, que punha em causa "as conquistas" do trabalhismo (onde eu que voltei a ouvir isto?) e voltou a perder: Eduardo Heath, primeiro-ministro conservador pró-europeu (as voltas que o Mundo dá!) fez aprovar a adesão. E voltou à ribalta Michael Foot quando os trabalhistas perderam para Margareth Thatcher, a direitista, em 1979.

Foi a resposta de esquerda, com uma política de esquerda (como diria o Louçã!), o que teve como primeira consequência uma cisão no Partido Trabalhista, com a saída dos pró-europeus, Roy Jenkins (que tinha sido presidente da Comissão Europeia), David Owen (que tinha sido Ministro dos Negócios Estrangeiros), Bill Rodgers e Shirley Williams, (tb antigos membros dos gabinetes trabalhistas, além de outros 25 deputados). Foram fundar um Partido Social Democrata a sério, na origem dos actuais Liberais e Democratas.

Michael Foot ainda foi muito popular até à guerra das Malvinas em 82-83. Depois levou os trabalhistas ao mais completo desastre eleitoral.

Os idealistas, como Michael Foot, acabam geralmente mal. Pior ainda acabou John Lennon. Um revolucionário puro, como se vê no poema, que vos traduzi. Pergunto-me, como o meu amigo João Maximiano que me mandou o poema, se não foi por isso que o mataram.

Ah e já me esquecia: eu foi admirador de Michael Foot até 1971. Só deixei de ser quando do seu alinhamento anti-europeu.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Há sinceridade nisto? Não há, não há

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Lei da rolha? Ora toma! Em minha opinião, a alteração estatutária votada pelos congressistas do PSD é uma coisa de nada comparada com o que se passa na Madeira desde 1977. Como diz Tolentino de Nóbrega no Público com base em grande número de casos concretos:

Leia devagar, puxe pela memória, e no final pergunte a Paulo Rangel o que ele acha de uma verdadeira "lei da Rolha", como a que vigora há tantos anos na Madeira. Como naquela canção do tempo dos nossos avós: Há sinceridade nisto (no que diz um candidato do PSD muito atreito a claustrofobia democráticas?) Não há, não há!

Isto é que é grave e o resto são cantigas.

domingo, 14 de março de 2010

As perguntas que não foram feitas e deviam ter sido

Com a devida vénia ao Nik para desvendar o que a esfinge nos esconde:

37 perguntas a Cavaco Silva

(continuação)

Senhor Presidente, a circunstância de o senhor enquanto primeiro ministro ter entregue, em 1992, um canal de televisão ao ex-primeiro ministro e militante n.º 1 do PSD, Francisco Balsemão e ter oferecido, em 1993, um canal à Igreja deve ser interpretada como fazendo parte de um plano para controlar a comunicação social portuguesa tanto do ponto de vista político-ideológico como religioso?

Senhor Presidente, a posterior entrada da Media Capital e da Sonae no capital da televisão da Igreja não lhe causou sobressaltos?

Senhor Presidente, a posterior tomada de controlo da TVI pela Media Capital não lhe causou vertigens?

Senhor Presidente, a posterior OPA do grupo espanhol Prisa sobre a totalidade do capital da Media Capital, em 2006, não lhe causou engulhos?

Senhor Presidente, o senhor acha normal ter afirmado, em Junho de 2009, contra a sua norma de não se pronunciar sobre negócios entre empresas, que os responsáveis da Portugal Telecom, uma empresa privada interessada no negócio das telecomunicações e multimédia, deveriam "explicar aos portugueses que motivos levam esta empresa a querer comprar 30% da Media Capital"?

Senhor Presidente, o senhor teve alguma conversa prévia com Manuela Ferreira Leite ou José Eduardo Moniz quando, em Junho de 2009, acusou de falta de transparência o negócio que se encontrava em preparação entre a PT e Prisa para a compra de parte da Media Capital, de que teria resultado o regresso da titularidade desta empresa a mãos portuguesas?

Senhor Presidente, porque é que não lhe oferecia garantias de "transparência e ética" a entrada da PT no capital da Media Capital, sabendo-se, por exemplo, que a mesma PT tinha detido 40% do capital da SIC Notícias durante oito anos sem que ninguém se tivesse queixado de falta de transparência ou de interferência na informação desse canal?

Senhor Presidente, o senhor pensa que o facto de o Estado deter uma golden share na PT e de, por conseguinte, o governo ter influência na nomeação do presidente e dois membros do conselho de administração, põe em causa a transparência e a ética dos negócios que essa empresa decida realizar?

Senhor Presidente, o facto de o governo ser socialista tem alguma influência no juízo que o senhor faz sobre a transparência ou não transparência dos negócios da PT?

Senhor Presidente, se o governo fosse do PSD, o senhor também acharia que o negócio entre a PT e a Prisa era questionável em termos de transparência e ética?

Senhor Presidente, se José Eduardo Moniz ficasse na TVI, como o presidente da PT aliás propôs ao dito Moniz, o senhor já acharia que o negócio entre a PT e a Prisa era transparente e ético?

Senhor Presidente, se em Junho de 2009 não se estivesse em período pré-eleitoral, o senhor também duvidaria da transparência do negócio?

Senhor Presidente, tem consciência de que com as suas declarações de Junho de 2009 sobre o negócio PT/Prisa pressionou o governo para que o negócio não se fizesse?

Senhor Presidente, depois das dúvidas que o negócio PT/Prisa lhe suscitaram, porque lhe ofereceu garantias de transparência e ética a compra de 35% da Media Capital à Prisa pela Ongoing, grupo que na altura era, e ainda hoje é, detentor de 23% do capital do grupo concorrente, a Impresa?

Senhor Presidente, não sente vontade de se pronunciar, contra a sua norma de não se pronunciar sobre negócios entre empresas, sobre a transparência do negócio recentemente celebrado entre a PT e o grupo Impresa para a criação de um novo canal de televisão para o Meo?

sábado, 13 de março de 2010

Perguntas que Judite de Sousa não fez e devia ter feito



Penso que foi uma vergonha a entrevista de Judite de Sousa a Cavaco Silva, pejada de risinhos cúmplices, com as olheiras postas nas alegadas falhas do PM e toda a abertura para desculpar à partida ─ "a paciência que um Presidente tem de ter, coitadinho!" ─ quando, a medo e de forma desajeitada, levantou a única questão que podia incomodar Sua Excelência, a das escutas.

Disse que a senhora devia ter começado por lembrar os compromissos do Presidente há quatro anos de ajudar o Governo e o País. Que não podia ignorar os rabos de palha (para usar um eufemismo!) do Presidente, amigos e contribuintes, no caso BPN. Não desci aos pormenores. O nikadas deu-se a esse trabalho. Faltaram 37 perguntas, diz ele. Assino por baixo, estas e outras:

Pois eu teria 37 perguntas para Cavaco de que a Judite não se alembrou. A mais antiga profissional da RTP tem uma memória muito selectiva, determinada pelo pequeno mundo das suas ânsias políticas. O pequeno mundo sectário que faz dela uma gaja ordinária, que há tempos se permitiu dizer ao Expresso: "Sou levada a crer que Sócrates emprenha pelos ouvidos". Uma desbocada que acrescentou: "Sócrates é agressivo comigo por causa do meu marido". Esta obsessão por Sócrates é mais que suspeita. Seara, põe-te a pau, que a Judite já só vê um homem à frente dela, acordada ou a dormir!

Então aqui vão as minhas perguntas para Cavaco:

Senhor Presidente, tem até hoje algum indício de que a Presidência possa ter estado a ser escutada por agentes do governo?

Senhor Presidente, que pensa do facto real de o Primeiro Ministro ter sido alvo de escutas ilegais cujas transcrições passaram depois ilegalmente para os jornais?

Senhor Presidente, o senhor já sabia que o Primeiro Ministro estava realmente a ser alvo de escutas ilegais quando os assessores do senhor Presidente lançaram o boato de que Belém estaria a ser alvo de espionagem e escutas a mando do Governo?

Senhor Presidente, se perdeu a confiança em Fernando Lima porque é que não o afastou da Presidência?

Senhor Presidente, se não perdeu a confiança em Fernando Lima porque é que o afastou das suas antigas funções?

Senhor Presidente, ainda mantém que "nunca recebeu qualquer remuneração do BPN ou de qualquer das suas empresas", como afirmou em 2008?

Senhor Presidente, se em lugar de BPN eu disser SLN, é capaz de dizer que "nunca recebeu qualquer remuneração do SLN ou de qualquer das suas empresas"?

Senhor Presidente, ainda mantém que a sua aplicação pessoal de mais de 100.000 € de "poupanças" em acções da SLN foi decidida pelo seu "banco gestor", sem o seu conhecimento prévio?

Senhor Presidente, confirma ou desmente que, com a venda à SLN de acções da SLN e compradas à SLN, o senhor ganhou, em dois anos, perto de 150.000 €?

Senhor Presidente, tem ideia de quem fixou o preço de compra e o preço de venda das acções da SLN não cotadas na bolsa em que o senhor aplicou as suas poupanças?

Senhor Presidente, esses 150.000 € de ganho que lhe foram creditados pela SLN, mais os 200.00 € que a sua filha na mesma data embolsou em transacção em tudo idêntica, devem ser interpretados como uma remuneração normal de uma aplicação normal de capital, decidida pelo "banco gestor" e sem prévio conhecimento dos "aforradores"?

Senhor Presidente, porque resolveram o senhor e a sua filha solicitar pessoalmente a venda dessas acçõe, por carta ao presidente da SLN, Oliveira e Costa, e não confiaram a sua venda, como disse ter confiado a compra, ao seu "banco gestor", aliás também presidido pelo mesmo Oliveira e Costa?

Senhor Presidente, o facto de a sua candidatura à Presidência ter recebido mais de 100.000 € de donativos de grandes accionistas e administradores do BPN/SLN poderá ser interpretado com um expediente para contornar a disposição legal que proíbe os donativos de pessoas colectivas ?

Senhor Presidente, porque é que o senhor Presidente fez aquele fincapé escandaloso por causa de duas cláusulas praticamente irrelevantes do Estatuto Autonómico do Açores e nunca disse uma palavra sobre o projecto separatista de "revisão constitucional" apresentado pelo PSD-Madeira?

(continua)

Boas perguntas, de facto. Sem agressividades inúteis e sem temores reverenciais, como aquela senhora devia ter feito. Pois aguardo com curiosidade a continuação.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Uma vergonha de entrevista


É verdade: eu também vi a entrevista de Cavaco Silva àquela senhora, também achei que o homem estava irritadiço, indisposto, mesquinho, previsível, nas ferroadas ao Governo, a quem deve alguma solidariedade institucional que não tem. Mas decidi não dizer nada a quente.

Digo-o agora: foi uma entrevista aflitiva, por ele e pela entrevistadora, que passou a vida a pôr-lhe as respostas na boca e a meter os pés pelas mãos: desculpe se lhe perguntei isso, um Presidente tem de ter muita paciência, não tem?

Paciência, minha senhora, tivemos de ter nós a ouvi-la. Que não compreendemos porque não lhe perguntou pelo BPN, que estamos todos a pagar, pelos negócios, chorudos, que ele próprio fez com o BPN, em proveito próprio e da família. Quem tem amigos? Ah não: o mínimo que temos o direito de saber é se aquelas acções foram mesmo obtidas por negócio particular ou se lhe foram oferecidas. E sendo que "não há almoços grátis" que vantagens, em sua opinião, pretendiam obter em troca os amigos Dias Loureiro, Joaquim Coimbra, Oliveira e Costa pelos favores que lhe fizeram?

Também se estranha que aquela senhora se tenha deixado intimidar na questão das escutas. Porque é perfeitamente irrelevante que ele se tenha ofendido com as dúvidas levantadas por dois deputados socialistas com base numa notícia do então Semanário, transcrita no site do PSD, sobre a eventual participação de assessores do PR na elaboração do Programa do Governo do PSD.

O que importava esclarecer, tornar bem "transparente", porque se trata da actuação do mais alto poder do Estado, é por que razão um seu homem de mão, com o seu conhecimento, quis "plantar" no Público duas manchetes falsas, a poucos dias das eleições, tendentes a denegrir o Governo e influenciar as eleições, como se viu.

O Público mentiu, como Fernando Lima veio dizer seis meses depois? Então por que razão o Senhor Presidente não o disse logo, ou pelo menos na sua intervenção de finais de Setembro, preferindo justificar-se com os alegados ataques dos tais deputados socialistas? Era o que uma jornalista a sério não podia ter deixado de perguntar. Sem agressividade. Mas também sem risinhos cúmplices.

A jornalista portou-se mal, e é sempre assim com entrevistados de direita, às vezes também, quando tem medo deles, de outros entrevistados. Mas o pior é o que Cavaco Silva disse e não devia dizer.

Não devia dizer que não pode demitir o Governo por falta de confiança política, ficando no ar que se pudesse era já, o que é uma vilania da sua parte. Porque é mentira.: pode isso e muito mais. Basta-lha alegar (e não precisa de provar) que está em causa o regular funcionamento das instituições.

Foi aliás o que fez quando se recusou a dizer se estava esclarecido sobre o negócio falhado da compra de uma parte minoritária da TVI pela PT. E razão tem o Público desta vez para pôr em manchete que o Presidente não acredita que o Primeiro Ministro não tenha tido conhecimento do negócio.

Sei que não foi isso que ele disse, só insinuou, valorizando o que a jornalista lhe propunha que dissesse: que no seu tempo, como bom Primeiro-Ministro que era, uma coisa dessas era inconcebível. Nas entrelinhas: este PM nem respeito lhe têm. Mas disse mais: como é que se há-de ter estar esclarecido se o Parlamento acaba de decidir uma comissão de inquérito?

Ei-lo mais uma vez ao serviço da guerrilha em curso, fazendo tábua rasa das declarações de Zeinal Bava e de Henrique Granadeiro, aliás nº 2 da lista de João Salgueiro, que se lhe opôs na Figueira da Foz, já lá vão 25 anos.

Penso que um Presidente da República devia afirmar-se como um homem bom, de ideias generosas, capaz de desarmadilhar agressividades inúteis, de ajudar o País a andar para a frente, como aliás ele próprio prometeu há quatro anos. Foi todo o contrário. Para vergonha nossa, a tal grande dama do jornalismo (ia dizer do PSD) foi incapaz de o confrontar com as promessas de há quatro anos. Deixou-o dizer. O que ele queria. E não o que é verdade
e ele não quereria dizer.

Foi uma vergonha de entrevista. Para tempo de antena, para lançamento da sua recandidatura a Belém, melhor era impossível.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Estava ali meia selecção do Queiroz

5-0? Mas que importância é que isso tem? Era o mesmo se tivesse perdido 1-0: eliminado, acontece, e não se fala mais nisso. O que me preocupa é que estava ali meia selecção do Queiroz: Rolando, Bruno Alves, Varela, Meireles, os dois guarda-redes suplentes do FCP, que Queiroz também chama em vez do Quim, além do grande Ruben Micael, cuja principal qualidade, como ontem se viu, é que diz do Benfica o que Maomé não diz do toucinho, em favor do qual a Sport TV move campanha todos os dias (por essas e por outras "desarrisquei-me" da Sport TV!).

Por isso contesto que tenha sido um desastre anunciado, ninguém me tinha dito nada, pelo contrário. E não compreendo a revolta e frustração de Meireles. Revolta? Contra quê e contra quem? Contra "a porcaria" da Federação? Mas essa é a desculpa de Queiroz, convém não copiar.

Ou será da maré vermelha de que o Arsenal é parte integrante? Não me parece. A verdade é que os jogadores do Porto (aprenderam com Pinto da Costa, alguns com Alberto João Jardim!) são assim como os sindicalistas do PREC (ou como o desembargador Martins, ou como o procurador Palma): sempre que as coisas não lhes correm de feição atiram sobre o Governo.

Isso me preocupa. O jogador Meireles, o tatuado, como o desembargador Martins, o obcecado. E mais do que todos, o treinador Queiroz, o enfatuado. São três vexames de uma vez. E todos vão continuar.

terça-feira, 9 de março de 2010

No Vietname orei num templo hindu

A mesma torrente de vida que dia e noite percorre as minhas veias percorre o mundo em cadenciadas maneiras - dizia Rabindranath Tagore. Estive com ele no Vietname. Santo laico, porque poeta herói do Povo, não subiu aos altares mas ganhou um lugar no templo. Conversámos um pouco. Tirámos uma fotografia juntos:
Aqui no templo, ao centro, sou eu, Rabindranath Tagore fez questão que eu ocupasse o melhor lugar (no espelho!). Saí a pensar como ele:
"Que eu reze não para ser preservado dos perigos, mas para encará-los de frente."

segunda-feira, 8 de março de 2010

Imagens do Vietname - Passeios para quê?

Às vezes ainda se consegue passar.

Outras vezes, não. Os passeios servem para almoçar, para conviver, para parar a mota, para comprar e vender seja o que for...

Para cozinhar também como se vê.

Passeios para passear, é que não.

Também quem é que anda a pé em Saigão? Só mesmo alguns turistas europeus.



domingo, 7 de março de 2010

Eu não acredito em bruxas: o Benfica vai ganhar ao Paços


Vou hoje à Luz ver um daqueles jogos que pode marcar, ou não, o arranque para a vitória do campeonato: se ganharmos ao Paços de Ferreira ficamos a 3 pontos do Braga e, sobretudo, a 11 pontos do FCPorto, com oito jornadas pela frente. Confesso que estou nervoso.

Primeiro, porque gostei muito que o FCP empatasse em casa e que o Braga empatasse fora, e como dizia a minha mãezinha não se deve gozar com a desgraça dos outros, Deus castiga sem pau nem pedra. Eu sou agnóstico dos pés à cabeça mas esta praga, dos castigos de Deus quando me porto mal, que me terão rogado na infância ainda hoje me atormenta.

Segundo, estive fora três semanas e tudo correu pelo melhor no melhor dos mundos: eliminámos o Hertha de Berlim, com 4-0, na Luz, nunca vibrei tanto num jogo seguido pela Internet, às tantas da manhã, com todos a dormir à minha volta; ainda mal tinha partido e já o Benfica ganhava em Leixões por 4-0; depois, abreviando, os nossos aliados das Antas deram uma coça nos pupilos do Paciência, um fartote, após o que os nossos aliados de Alvalade, só pelo panacho, deram 3-0 ao FCP, um gozo completo.

E agora? Sei bem que anda para aí um turbamulta, com ramificações no pequeno mundo dos comentadores televisivos e na Internet (não é verdade, José Eduardo ?), abespinhada com o previsível sucesso do Benfica. Será que vêm aí amanhãs que desencantam?

Ou será que para que as coisas corram bem ao Benfica eu tenho de me afastar para longe, uns 12 mil quilómetros, pelo menos? Se for o caso, por isso não seja a dúvida, eu afasto-me. Não me importo de ir dar mais uma volta, desta vez até aos antípodas, e ficar por lá até ao final da época. O Benfica que diga!

Vale? ─ como dizem os espanhóis. Ou não vale - a pena ? Têm a palavra os jogadores do Benfica e sei lá se mais alguém. De qualquer maneira, já comprei bilhete para a jogatana de quinta-feira contra o Marselha. Deus vai-nos castigar por causa daquela estória antiga da mão do Vata ? Não acredito, palavra de honra, até que já ninguém se lembra dessas coisitas sem importância!

Ainda bem que não acredito em bruxas!

sábado, 6 de março de 2010

Contra o Primeiro-Ministro, marchar, marchar


Investigadores do Freeport o têm novos indícios que justifiquem uma deslocação a Londres - diz o Público com base em declarações à Lusa de uma fonte judicial. Pois é mas o Expresso que terá chegado à noite de sexta-feira sem manchete que vendesse, arrisca uma que desfaz o Primeiro-Ministro: PJ em Londres para investigar novas pistas contra Sócrates.

Qual delas é que for retida pelos telejornais do meio-dia? A do Expresso, claro, exclusivamente. Estou mesmo a ouvir: "ainda tentámos telefonar para a redacção do Expresso para lhes pedir um comentário sobre a declaração da Lusa". Ninguém atendia. Para o dr. Balsemão, nem tentámos. Já sabemos que ao sábado ele não atende o telefone.

E aqui se vê porquê. Não havendo desmentido o Expresso é dinheiro em caixa, todos o citam e lhe fazem publicidade, que bem precisa. Tudo o que possa surgir em contrário é irrelevante, até segunda-feira. Disso os jornalistas televisivos, que um dia bem podem precisar de um emprego no império de Balsemão, se é que já não trabalham para ele, nem tomam conhecimento.

Esperto este militante nº 1 do PSD! Assim ganha sempre. E já agora: qual foi o juiz ou desembargador, o procurador ou polícia, que ficou encarregado este fim-de-semana de alimentar a campanha em curso para derrubar o Primeiro-Ministro eleito?


sexta-feira, 5 de março de 2010

Isto é que a Comissão de Ética devia ver

Não sei o que é mais extraordinário: se o envolvimento do Presidente da República num negócio entre privados que não chegou a realizar-se, se o alheamento do Presidente da República do negócio entre magistrados e jornalistas destinado a linchar inimigos políticos.

Mais uma aspirina, que vem a calhar, não mata mas alivia, do Valupi, grande Valupi, um nome que se fez a si próprio, sem precisar dos antepassados, ó PPM.

Garcia Pereira a Presidente Já!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Queiroz é a Manuela Moura Guedes do futebol


Eu também assobiei ontem a selecção de Queiroz naquela segunda parte de estarrecer. De fininho, para não incomodar os vizinhos, mas não tive outro remédio: não gostei, não sou chinês, não me resigno a tudo, como ele gostaria. Foi ridículo!

Quase tão ridículo como a Manuela Moura Guedes na Assembleia, não sei se tiveram o mau gosto de a ouvir um pouco, assim como aquele senhor dos negócios televisivos que se lhe seguiu. Eu tive mas não aguentei muito tempo, devo dizer.

Ambos respiram ódio por todos os poros. Queiroz, presumo, Por isso não convocou um único jogador do Benfica.

Nem o Quim que é só esta época o guarda-redes mais eficaz da Europa. Como muito bem se sabe até em Barcelona, só Queiros é que não sabe. E disfarça, acusa outros de faltarem ao respeito devido a um jogador, quando quem lhe falta ao respeito, convocando o suplente do Chelsea, é ele.

Nem o Fábio Coentrão, apesar de ele ser o rei das assistências no futebol português. Nem Carlos Martins, nem Rúben Amorim, ele deve fazer parte daqueles grupos que andam por aí nas redes sociais a clamar: "odeio-te Benfica". Como a Manuela Moura Guedes faz parte seguramente do "odeio-te, Sócrates" e até de um "odeio-te, TVI", como se viu.

Por isso eu também assobiei a selecção de Queiroz. Redundante é ele! Digo mais: sei bem que não há nada a fazer, mas com este treinador, a jogar assim, não prevejo nada de bom para a selecção na África do Sul. Só vexames. Apesar do grande empenho de Cristiano Ronaldo e outros. Como quando passou pelo Real de Madrid, lembram-se. Com tantos galácticos perdeu cinco jogos seguidos.


quarta-feira, 3 de março de 2010

A boa e a má fama de Portugal visto do Vietname



Henrique Calisto, um herói português no Vietname, país de heróis, vai ser condecorado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros um dia destes. Achamos bem. Além de grande conhecedor do futebol nacional ─ quem não se lembra da carreira que fez no Boavista, um quarto lugar, no Guimarães e no Rio Ave, em várias promoções à primeira divisão?

E já agora treinou também, e jogou, no clube da minha terra, o Desportivo de Santa Cruz de Alvarenga, que em três anos, com ele, subiu duas vezes de divisão. Calisto tinha 22-25 anos, era estudante de motricidade humana, treinava e jogava.

Invoquei a minha qualidade alvarenguense quando perguntei por ele a um amigo, Afonso Vieira, jovem empresário no Vietname, na China e em Singapura, com a sua TWM, Total Wealth Management. Calisto estava em Saigão, tinha previsto regressar a Hanoi naquela manhã. Adiou o voo para poder almoçar connosco. Gente de Alvarenga no Vietname? Calisto tem todo o prazer em fazer as honras da casa.

No Alvarenga Calisto jogou com, entre outros, os agora médicos eminentes José Abel Teles e José Carlos Noronha, este último é o médico que assiste o Cristiano Ronaldo, que operou o Pepe, e antes dele o Drogba, o Robben, o Essien, e até dois jogadores vietnamitas quando por lá passou há dois anos com a família a convite do seu amigo Calisto.

Continua cidadão activo e interessado no que se passa cá na sua terra: foi presidente de uma junta de freguesia de mais de 40 mil eleitores em Matosinhos, pertenceu à comissão nacional do PS, deu a cara na comissão de honra de Manuel Alegre há 3 anos.

Interessado por Portugal mas desiludido com ele e por isso nem pensa em voltar tão cedo. Quem está longe vê melhor, somos um país com um pessimismo doentio, uma vida política ultra-conflituosa, mesquinha, quezilenta, injusta, maldizente, irritante, todos os dias.

Assim não admira que as agências de rating nos penalizem: basta que citem os nossos próprios máximos responsáveis políticos. Um dia é aquele rapaz dos submarinos a afirmar-se comandante de uma tropa de capacetes azuis que vem promover a paz ─ será que estamos em guerra em Portugal? Outro dia é aquele fortalhaço mal encarado a proclamar em Estrasburgo que a democracia em Portugal, no fundo, no fundo, já acabou. O que temos agora é "uma democracia formal". Depois vem a outra senhora a falar para as agências de rating e a pôr-nos ao nível da Grécia

Pois é, Professor Calisto, e não sabe o meu amigo da missa a metade. A "bufaria" das escutas, a ofensiva do agit prop dos magistrados, de braço dado com os seus jornalistas de estimação, as comissões de inquérito "à liberdade de informação", como se a liberdade fosse algo que se dá e não o que se toma, como homens livres e sem recear as consequências, quando se é justo e verdadeiro.

E tudo porque a agitação e propaganda, com altos patrocínios, antes das eleições de Outubro, as greves e insurreições, na rua e nas televisões, a demagogia sem quartel dos operacionais da extrema esquerda, pagos pelos patrões dos grandes jornais assumidamente de direita, não conseguiram derrubar nas urnas o governo de José Sócrates. Isto, claro, sou eu a falar. Calisto, o político, é muito crítico deste Primeiro-Ministro. Bastante mais do que eu que não sou do PS.

Cristiano Ronaldo em cartaz no centro de Saigão

Já não é o nº 1 do Mundo? Pois vão dizer isso aos vietnamitas e à Castrol. Ele é o único futebolista estrangeiro com prestígio e notoriedade suficiente para ter a honra de um cartaz gigante no centro da trepidante Saigão.

Em Saigão e não só. A nossa amiga Ying Zhou, uma chinesa de Xangai, que encontrámos no Vietname (e foi aliás a primeira pessoa do nosso pequeno grupo a reparar no cartaz) diz-nos que há idênticos anúncios com o nosso CR9 nos muros das principais cidades chinesas.

A única diferença é o nome que lhe chamam na China: Xiau Xiau Ronaldo. E Xiau Xiau porquê? Porque literalmente isso significa "Jovem Jovem". Lembrem-se primeiro houve no futebol mundial um Ronaldo, o Fenómeno. Depois um tal de Ronaldinho, que na China deu Xiau Ronaldo, o Jovem Ronaldo.

O nosso Rei é portanto D. Ronaldo III, Xiau Xiau Ronaldo. E goza de uma popularidade no Vietname e na China, que ultrapassa obviamente Messi, Rooney, Kaká, Beckham e tutti quanti.

Porquê? A explicação veio-nos do Prof Henrique Calisto, com dez anos de Vietname, actualmente à frente da selecção nacional deste país. Ganhou há pouco tempo a Taça do Sudeste Asiático, como contaremos amanhã, e falhou por uma unha negra o apuramento para o Mundial.

Calisto é ele próprio uma caso sério de popularidade no Vietname. Estava ele a exemplificar como se atravessava a rua: em qualquer lugar, a passo certo, sem parar e sem correr, que as motas sabem calcular os possíveis pontos de impacto e evitá-los.

No caso de Calisto, o resultado ia sendo fatal, porque literalmente a sua passagem de um passeio a outro fez parar o trânsito: foi reconhecido de imediato por vários "motards", que lhe sorriam, o saudavam efusivamente, um houve que encostou, sacou da máquina, pediu uma foto com o treinador português, que consentiu.

A razão para a popularidade de Cristiano Ronaldo, e do futebol português, no Extremo Oriente radica nas características únicas do jogador, na sua velocidade, como reconhece o Der Spiegel, nos seus tomahawks, que chegam à China, no facto que é amável e bem parecido e isso, não se pode ignorar, também conta.

Mas não só. CR9 jogou na Premierleague, que é a organização que melhor sabe vender o seu produto. Por isso faz jogos às 12H e às 13h aos sábados e domingos, que podem ser vistos em directo, e são-no, aliás em sinal aberto, no Vietname e na China, às horas de jantar. E ainda no Japão, na Coreia, na Indonésia, até mesmo na Austrália, quando se vai dormir mais tarde.

Calisto lamenta que o futebol português não saiba ou não queira promover-se, explorar as oportunidades que existem no Oriente. Ele só queria um jogo Vietname-Portugal, que seria um estrondo mediático. Ou uma visita dos nossos craques. Ou a vinda a Saigão de um Benfica ou de um FCPorto. "O futebol é uma arma". De promoção política, diplomática, económica, obviamente.


terça-feira, 2 de março de 2010

Madeira, o outro lado da tragédia e ponto final

Estive três semanas fora, longe, muito longe. Claro que soube da tragédia da Madeira (que não é só política, como se viu), das muitas dores, das gentes de lá e cá, e o primeiro que me apeteceu dizer foi uma observação que me ocorreu descíamos nós do Monte de autocarro a caminho da Rua Visconde do Anadia, Mercado dos Lavradores, Praça da Autonomia, Almirante Reis, a baixa do Funchal:

─ "O arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles é que não ia gostar nada disto"

Sucediam-se as ladeiras estreitas, a pique, e as curvas de meter medo. Deviam ser de sentido único, mas não eram, havia carros estacionados nas bermas, que obrigavam a perigosíssimas paragens e marchas atrás, para deixar passar quem vinha de frente. Ao lado viam-se as ribeiras emparedadas, em ziguezagues, sem o cuidado sequer de lhes arredondar os ângulos, o betão a invadir o leito dos rios.

Foi isso que me lembrou a tese de Ribeiro Teles, antiga e comprovada. As margens dos rios, com vegetação natural, a chamada mata ciliar, são uma espécie de esponja para as águas sujas que passam, funcionam como uma continuada estação tratamento, além de combaterem a erosão, tanto mais perigosa quanto maior o declive das águas que correm. As margens dos rios não gostam de ser aprisionadas pelo betão, um dia zangam-se, saltam para fora, levam tudo à frente, vingam-se.

Sim, sei que as catástrofes acontecem, não são culpa de ninguém. Não, não previ a tragédia, não sou cientista do ambiente.

Mas tenho bom senso. Alberto João Jardim vai ter agora ainda mais dinheiro para gastar. Alguém que o controle - precisa-se.