Imagina que não há paraíso
nem inferno debaixo de nós.
Confia no que diz o teu juízo
Que lá acima é firmamento e só.
Imagina que toda a gente
Vive o seu presente.
Imagina só que não há países nem fronteiras,
e nem é difícil isto imaginar,
Nada há por que matar ou por que morrer,
nenhuma religião por que rezar.
Imagina que toda a gente
Vive em paz e contente.
Imagina que não há donos nem senhores,
Que não há razão para ganância ou fomes.
Imagina se puderes,
Imagina que são irmãos todos os homens
e todas as mulheres.
Imagina toda a gente a partilhar
O que o mundo inteiro pode dar
Dirás que sou um sonhador,
Sabe que somos muitos a sonhar
Que um dia virás juntar-te a nós
E que o mundo inteiro há-de cantar
e viver o sonho a uma só voz.
As palavras são do John Lennon, aqui em tradução livre, mas podiam aplicar-se a Michael Foot, o mais puro dos líderes trabalhistas britânicos, e também um dos mais incompetentes, que ontem desceu à terra, "imagino que..." a ouvir aquela canção dos Beatles.
Foot, trabalhista, foi estrela do movimento pacifista dos anos 50 e 60, contra a bomba russa tanto como contra a bomba americana, votou contra as despesas militares, em pleno governo trabalhista, perdeu e pagou o preço, lutou contra a guerra do Vietname, ao lado dos esquerdistas e comunistas europeus.
No princípio dos anos 70, liderou a campanha dos trabalhistas contra a CEE capitalista, que punha em causa "as conquistas" do trabalhismo (onde eu que voltei a ouvir isto?) e voltou a perder: Eduardo Heath, primeiro-ministro conservador pró-europeu (as voltas que o Mundo dá!) fez aprovar a adesão. E voltou à ribalta Michael Foot quando os trabalhistas perderam para Margareth Thatcher, a direitista, em 1979.
Foi a resposta de esquerda, com uma política de esquerda (como diria o Louçã!), o que teve como primeira consequência uma cisão no Partido Trabalhista, com a saída dos pró-europeus, Roy Jenkins (que tinha sido presidente da Comissão Europeia), David Owen (que tinha sido Ministro dos Negócios Estrangeiros), Bill Rodgers e Shirley Williams, (tb antigos membros dos gabinetes trabalhistas, além de outros 25 deputados). Foram fundar um Partido Social Democrata a sério, na origem dos actuais Liberais e Democratas.
Michael Foot ainda foi muito popular até à guerra das Malvinas em 82-83. Depois levou os trabalhistas ao mais completo desastre eleitoral.
Os idealistas, como Michael Foot, acabam geralmente mal. Pior ainda acabou John Lennon. Um revolucionário puro, como se vê no poema, que vos traduzi. Pergunto-me, como o meu amigo João Maximiano que me mandou o poema, se não foi por isso que o mataram.
Ah e já me esquecia: eu foi admirador de Michael Foot até 1971. Só deixei de ser quando do seu alinhamento anti-europeu.
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