O que aconteceu, em 1965, foi um pretenso escândalo, até hoje por esclarecer: a descoberta pela imprensa de direita de uma organização clandestina de jovens oficiais de esquerda que estariam dispostos a bater-se contra um eventual golpe de direita e aos quais aparecia ligado o nome de Andréas Papandréou, ministro e filho do então PM, que viria a ser PM, ele próprio, vinte anos mais tarde. Na Grécia todos os vinte anos há um Papandréou Primeiro-Ministro, de esquerda? Que alterna com um Caramánlis, Primeiro-Ministro conservador? Assim parece.
Em 1965, na Grécia, por azar, a possibilidade de um golpe de Estado militar da direita era pública e notória, como mais tarde contará o filme Z, de Costa-Gavras ─ acabavam de assassinar em Salónica o deputado Lambrakis, num complot que meteu milícias de extrema-direita, com a cumplicidade dos altos comandos da polícia e, ao que se diz, até hoje, do próprio Caramanlis, vencido nas eleições de 1963. Por isso, a existência de uma organização clandestina de oficiais do Exército, anti-golpistas, "ligados" ao filho do PM, enervou as chefias militares. Exigiu-se a demissão do ministro da Defesa. Que Papandréou aceitou.
Mas quando Geórgios Papandréou quis ser ele próprio o ministro da Defesa, acumulando com o lugar de PM, o jovem Rei Constantino, há um ano em funções, resolveu dar um ar da sua graça e opôs-se frontalmente. O impasse conduziu à demissão de Papandréou. E à tentativa de formação de Governo com personagens menores do partido do líder demitido (chamava-se então "União do Centro").
Cinco governos se sucederam, com "renegados", "apóstatas", do partido que acabava de ser escorraçado do Poder sem que o Rei tivesse tido a coragem de dissolver o Parlamento e convocar novas eleições. Assim como D. Carlos em 1906-1908, com a ditadura de João Franco, quando mandou fechar S. Bento e se esqueceu de convocar novas eleições.
Cinco Governos chumbados, todos, no Parlamento, que iam prolongando a agitação nas ruas e os confrontos. Foi o que ficou conhecido na Grécia como "a apostasia de 1965". E criou as condições para o golpe de Estado dos coronéis em 1967. O Reizinho que soltara contra Papandréou todos os demónios, de repente calou-se. Mas um ano depois fugiu para Roma e proclamou a sua oposição aos coronéis. Os quais de imediato extinguiram a Monarquia.
Quando em 74 os coronéis foram corridos e voltou a democracia, o Rei Constantino também quis reocupar o trono. Demasiado tarde. "Roma não paga a traidores", o Povo grego, em referendo, desta vez, votou o fim da Monarquia. E o primeiro Presidente da República eleito foi o juiz que em 1964 tenha instruído o caso Lambrakis e inculpado pelo assassinato alguns altos quadros da Polícia e do Exército. Como se conta no Z, um filme a ver e rever, com Jean Louis Trintignant, no papel do juiz, Yves Montand, como Lambrakis. Um dos dez melhores que vi na minha vida.
Constantino, como D. Carlos, os reis, e alguns chefes de Estado que pensam como reis, não se conformam com o voto popular. A criação de cisões nos partidos existentes é uma tentação frequente. Para alguns chefes de Estado que pensam como reis.
Digo eu neste 5 de Outubro, dia da República, proclamada há 99 anos da varanda dos Paços do Concelho de Lisboa. Onde todos os Presidentes da República, democraticamente eleitos, faziam questão em ir num dia assim. Até hoje.
Não acredito que o homem queira continuar a guerra com o PS depois do fiasco que foi a operação escutas. Mais do que procurar uma personagem de segundo plano no PS para substituir Sócrates como PM o mais provável é que quando tiver Sócrates bem queimado procure empossar um governo com amigos seus "independentes" como fez o Eanes. Eles são amigos.
ResponderEliminar