quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Todos os caminhos vão dar a Marcelo

A Marcelo estendem-lhe a passadeira. Desta vez nem é preciso que Deus desça à Terra, a ele, Marcelo, ergue-se-lhe um caminho semeado de flores, serpenteando por cima dos mares, até ao Céu. Em verdade em verdade vos digo: Ele é o caminho, a verdade e a vida, do PSD.

No mesmo dia, praticamente à mesma hora, Paulo Rangel e José Luís Arnaut, finalmente, lançaram nas televisões a candidatura de Marcelo ao trono do PSD. Com oito dias de atraso, a bem dizer. Logo no primeiro dos seus sermões de domingo a seguir às autárquicas, Marcelo fizera-se lembrado bem ao seu estilo: Oferecia "cimeiras" a cada uma das personalidades, maneira de preparar a procissão que o viesse buscar num andor.

Não vieram logo e Marcelo zangou-se: "Se querem transformar isto num ringue (leia-se, se houver luta pela liderança), não contem comigo, assim não vou". Ninguém tinha reparado que houvesse luta, apenas vagas intenções, para depois, se a D. Manuela abandonar o barco.

Mas Marcelo tinha pressa e resolveu dramatizar. Não vou, não vou ─ disse no Gato Fedorento. Não vou, não vou, não vou ─ insistiu com Flor Pedroso. Genial! A birra de Marcelo desatou as línguas. Esta noite caíram sobre ele uma torrente de elogios.

"Marcelo é o maior, ele foi o melhor líder de Oposição que jamais houve neste País" ─ proclamou Paulo Rangel e não foi contrariado pela sua amável interlocutora, que bem lhe podia ter dito que a bondade de uma oposição se mede pela capacidade do líder ganhar as eleições seguintes, como fez Guterres, como fez Durão, como fez José Sócrates. Claro que ninguém na RTP pode contrariar Marcelo, ele é o padre-cura daquela paróquia, e se não lhe dão tudo o que quer, ele vai queixar-se à concorrência.

Ainda mais edificante foi a oração de Arnaut: "Só ele pode unir o Partido!". Mas o PSD está desunido? Onde, quando? O próprio Arnaut se desmentiu logo a seguir: "O PSD está tão unido que Aguiar-Branco foi eleito com 77 votos".

Os dados estão lançados. Marcelo quer união, que ninguém se lhe oponha, não gosta de contraditório. Por isso não quis ser eleito deputado, que se deu mal com a função quando por lá passou na Constituinte. Já então preferia, ele próprio confessou, "a criação de factos políticos", no Expresso, "tão amigos que nós éramos", não é verdade, Dr Balsemão?

Continua na mesma. Enquanto esperava que o carteiro passasse outra vez, para quê a tribuna de S. Bento se tinha um púlpito na RTP? Marcelo, grande Marcelo, o trabalho que lhe deu esta segunda oportunidade!

Chegou a hora/chegou chegou/ A hora é boa/ E o samba começou!

1 comentário:

  1. Genial este texto.Para rever dentro de alguns meses quando a luta começar no ringue ou porque não chegou a haver luta.

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