domingo, 20 de setembro de 2009

Vem aí o papão do Bloco - diz Ferreira Leite


O PSD já não ganha estas eleições e começou a interiorizar a derrota. Por isso e só por isso é que passou a tentar meter medo com uma eventual coligação de esquerda, em consequência dos resultados que se esperam para daqui a uma semana. Não é o País que tem medo, é o PSD que está aflito, com a hipóteses de o Bloco levar as suas "propostas fracturantes" para o Governo.

O País, aparentemente, não tem medo do Bloco, nem das tais propostas fracturantes, desde que no Governo esteja, também, o único partido que foi capaz de erguer-se contra o PREC e que o pode fazer de novo quando e se for preciso. Se o País tivesse medo do Bloco, e/ou do PCP, concentraria os seus votos em Sócrates, como os espanhóis fizeram em Zapatero, reduzindo a extrema esquerda a 5 deputados em 350: 3 para a Esquerra Republicana (espécie de Bloco de Esquerda), 1 para o PCE, outro para os Verdes. Pelo contrário, vamos ter a extrema da extrema esquerda mais numerosa do Mundo Democrático.

Eu sou dos que preferiam de longe a maturidade democrática de um solução à europeia, o rotativismo entre a esquerda democrática e a direita democrática. Acontece que a direita portuguesa está cada vez mais perigosa, e são, aliás, de esperar nestes últimos dias mais manobras e abalos, "com epicentro" em Belém e pés enterrados no corporativismo de antanho.

E acontece também, como se comprova pelo andar das sondagens que os eleitores estão fascinados pelo vanguardismo do Bloco (um pouco como aconteceu com os eleitores da Bolívia, do Equador, da Venezuela, da Argentina ou da Nicarágua!). Vem aí um Maio de 68 eleitoral, "somos todos judeus alemães".

Somos todos pelo casamento civil dos homossexuais - repararam como em Espanha já nem a direita franquista defende que se volte atrás. Contra os paraísos fiscais - temos um na Madeira. Contra as "off-shores". Contra os prémios milionários que os banqueiros se outorgam! Contra as falências fraudulentas! Contra as negociatas chorudas com acções que não estavam no mercado, Vocês sabem do que estou a falar?!

É disto que o PSD tem medo, e não dos dois ou três ministérios que num governo de esquerda haviam de caber ao Professor Louçã, ao Doutor Semedo ou ao Prof. Fernando Rosas. O PSD tem medo que, com o apoio do Bloco e do PCP, o PS deixe de ser obrigado a recuar a cada medida, e que finalmente escolha "avançar", tendo força e apoios para isso, fazendo das tripas coração, contra os vetos de Cavaco e a guerra santa que a direita a bem dizer já lançou.

O PSD fala do papão de um governo de esquerda que aí vem porque sabe que vai perder. E a prova de que o PSD sabe que vai perder foi a aparição de Marcelo Rebelo de Sousa, em defesa da sua dama, agora oficial. O PSD sabe que não tem hipóteses mesmo que "o genial Marcelo" crie meia dúzia de factos políticos para o que resta de campanha.

Por mais tempo de antena que lhe dêem, Marcelo tem pé frio, como dizem os brasileiros. Lembram-se como ele enterrou de vez a campanha do aborto? Quanto mais se agitar, ao lado da outra senhora, pior para ela! Viram a sua prestação em Coimbra? Irrelevante! A mim fez-me lembrar o outro Marcelo, Caetano, quando se precipitou para a clínica onde Salazar estava em coma, depois de cair da cadeira.

Marcelo apareceu brilhando aos militantes, a dizer-lhes "comparem-nos, vejam as diferenças".Onde ela é deprimente, eu sou estimulante. Onde ela é cinzenta, eu sou um Rei-Sol, um manda-chuva, num ápice passo das televisões à direcção do Partido, vou e volto as vezes que me apetecer.

A aparição de Marcelo na campanha é o segundo sinal de que o PSD já perdeu. O primeiro é o apelo ao medo contra o papão de uma coligação PS+PCP+BE. E haverá outra solução de Governo depois do que a D. Manuela disse nos debates?

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