Falaram. Cada qual disse o que tinha a dizer. Não houve berros, insultos, histerias, os velhos truques, só possíveis em Portugal, de falar em cima do adversário para ninguém oiça o que ele diz. Sócrates e Jerónimo tiveram um debate civilizado. E muito interessante.
Foi assim possível ouvir e entender alguns factos que andam esquecidos nesta campanha. Por exemplo, a afirmação de Sócrates que a reforma da educação começou no primário, com as aulas de substituição, a introdução do inglês, a ocupação das crianças na escola pública em actividades diversas até às cinco da tarde, e mais tarde a distribuição de computadores.
Foi bom, foi mau? Alguns sindicatos moveram a estas medidas uma guerra danada, que foi até à greve aos exames? E os partidos da oposição, todos, preferiram alinhar com os adeptos do statu quo contra os que queriam abanar o conformismo reinante? Tudo não passou de manobras do Governo para poder prolongar os horários de trabalho dos pais das crianças, como disse Jerónimo de Sousa? Ou esta é uma desculpa de mau pagador?
Esta foi uma das primeiras “refregas” do debate e logo ali, como se vê, havia um punhado de curiosidades e interrogações que ficavam no ar, pano para mangas, uma história para contar, para um jornalista que tivesse unhas para tocar essa guitarra.
Falaram disso os jornais? Não. Foi um debate morno – repisaram cronistas ensonados, "désabusés", no Público, na TSF, em todos os serviços da TVI (sem link, que o não merecem), e na generalidade da imprensa. Ainda por cima, que falta de originalidade! Não sabem dizer mais nada?
Não sabem contar como foi porque isso iria “prolongar” os seus horários de trabalho e o director do jornal já explicou que não lhe interessam notícias sérias, umas “bocas” bastam? Depois não se admirem que a audiência dos jornais se afunde todos os dias. São ignorantes, não têm memória, nem cultura, a política não lhes interessa, não gostam do que fazem, não sabem contar.
Obviamente, a culpa, para começar, é dos directores que preferem assim: umas banalidades, desde que desconsiderem os líderes, são bem mais apetecíveis e fazem furor, junto dos amigos e colegas de profissão.
Não sabem contar e aparentemente é isso que também agrada aos patrões, tão ignorantes e mesquinhos como os seus empregados. E quando alguém sai da mediocridade que temos, alguém com algum espírito crítico, equilíbrio e sentido de Estado – digamos um homem honrado como Pais do Amaral, um dos maiores jornalistas da Península nos últimos 40 anos como Juan Luis Cebrian, ou alguém no lugar dele, quando gente deste nível proclama que
a rainha, a Manuela, vai nua, e não é bonita de ver,
mobilizam-se contra ele todos as trevas da Inquisição.
Este jornalismo que temos é um atraso de vida.
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