segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Como se faz um título feio: a proeza da Exame

Hoje todo o dia em vários sites a notícia foi que "Sócrates é o pior Primeiro Ministro..." Cartaz do PSD? Palavra de ordem corporativa ou sindical? Boca de campanha de um seu adversário político? Mais uma "encomenda de Belém", a última da era Fernando Lima?

Desengane-se. Se fosse alguma coisa dessas, quem lhe pegaria? Praticamente ninguém, se exceptuarmos José Manuel Fernandes e os seus acólitos, tirando Manuela Moura Guedes e o seu comando guerreiro. Não. Trata-se dos resultados de uma "sondagem", muito a propósito encomendada, e oportunamente divulgada, em cima das eleições, no mais aceso da campanha, pela revista Exame. Grande furo, sim senhor!

No mais aceso da campanha, 27% dos votantes detestam José Sócrates, dizem que ele é "o pior Primeiro-Ministro"? Só 27 %? E os outros 73%? Como explica um politólogo no corpo da notícia, que não no título, um resultado destes é normalíssimo, inevitável, lógico, incontornável. A revista Exame, ou alguém por ela, ao encomendar a sondagem, tinha a certeza de que, mais ponto menos ponto, o resultado só podia dar um título feio para o Primeiro-Ministro.

Atenção: "o pior Primeiro-Ministro desde 1985". Porquê "desde 1985"? Porque a democracia começou em 1985? Porque não "desde 1980", que é número redondo? Ou "desde 1975", que é o ano da entrada em vigor da Constituição, do I Governo de Soares, o do "PS sozinho"?

Ingénuos. Porque nesse ano de 1985 Cavaco Silva iniciou funções depois de três anos de austeridade, acordos com o FMI, com as contas externas em ordem, e sobretudo, sobretudo, com um jackpot de fundos comunitários para gastar como lhe aprouvesse? Como era previsível, Cavaco sai da sondagem como "o mais querido" dos Primeiros-Ministros. Daí 1985.

Então e Sá Carneiro não rivaliza com Cavaco Silva como o "melhor PM" no coração dos leitores da Exame? Então e Pinto Balsemão não rivaliza com José Sócrates na disputa do lugar de "pior PM"? Ficam de fora. Assim como Nobre da Costa. Assim como Mário Soares. Assim como Lurdes Pintasilgo. Que todos tiveram adeptos.

"Poi$, poi$, J. Pimenta": é tudo uma questão de dinheiros. A Exame, que é propriedade do militante nº 1 do PSD, não podia correr o risco de promover uma "sondagem" susceptível de desconsiderar o patrão. Ia tudo raso.

Nem podia lembrar aos fervorosos de Cavaco que Sá Carneiro, ele sim, governou em condições menos favoráveis, soube congregar esforços, resistir a um Presidente desafecto, enfrentar e levar de vencida uma campanha negra negra.

Lembrar Sá Carneiro era fazer o jogo de Sócrates. Esconder Balsemão era a melhor maneira de concentrar sobre Sócrates todos os furores dos homens de negócios, de todos os turiferários de Rendeiro e de Oliveira e Costa, que suportam a Exame.

Assim não se correram riscos. Uma sondagem assim só podia dar aquele título, espécie de boca foleira, panfletário e enganador, era mais do que garantido. Não admira o sucesso que teve.

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