domingo, 19 de julho de 2009

"O activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas"


Leio Ana Paula Fitas, leio o Jumento, (leio e recomendo, sempre, a leitura destes e de outros blogues, aqui ao lado) e devo dizer que estou perplexo: de repente temos "a democracia ameaçada". E porquê? Porque AJJardim pretende que, já que se proíbe a ideologia fascista, se deve também acrescentar "o activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas", como impunha aos funcionários públicos o Decreto-Lei 27.003 de Salazar? Nada disso.
Entendamo-nos: considero o Alberto João Jardim um tipo odioso, ele é uma das razões que me tornam difícil votar PSD, mesmo quando, a nível nacional, acho que o PSD pode ter alguma razão. Que não é caso neste momento, com a deprimente Manuela e o grande educador Aníbal.

Acontece, porém, que estive a ler o projecto de revisão do PSD/Madeira e não me parece nada do outro mundo. Designadamente na parte em que, em síntese, substitui a proibição de organizações "de ideologia fascista" por "de ideologias totalitárias". Mas a quem é que isso incomoda?

O fascismo foi uma praga ? Foi. E o comunismo, com os seus "gulags" e as suas purgas, com o esmagamento da Primavera de Praga, com os massacres que se seguiram às revoltas na Polónia, na Hungria, em Berlim Leste, com as suas eleições de partido único e resultados de 99%? E o comunismo, de Estaline a Brejnev, bem mais perto de nós, foi o quê?
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No PS é "proibido" ler-se Soljenitsyne? E a Confissão de Arthur London? E "A 2ª Morte de Ramon Mercader",de Jorge Semprun? E o Triunfo dos Porcos? E os Processos de Moscovo? E o Muro de Berlim?

A nossa memória é que interessa - defende Ana Paula Fitas. Que "o maior ou, pelo menos, um dos maiores riscos da Democracia é o branqueamento da Memória enquanto património cultural e identitário das populações."

A nossa memória, claro: eu também sou contra o branqueamento, estou solidário com todos os que clamam por aí que "Não apaguem a memória". Mas pergunto: serviu de alguma coisa a proibição da ideologia fascista na Constituição, uma maneira de alertar contra a herança de Salazar?

E respondo: não serviu de nada! Salazar, é bom não esquecer, foi eleito "o maior português de sempre", uma honra que não teve Mussolini na Itália, nem Hitler, na Alemanha ou Áustria, nem Franco, em Espanha, nem Estaline na Rússia ou na Geórgia. E não há um preceito semelhante ao nosso em qualquer das Constituições desses países.

Mas querem continuar a proibir a ideologia fascista? Por mim acho bem. E porque não, mais globalmente, as ideologias totalitárias (compreendendo as ditaduras, as guerras santas, os campos de concentração, as deportações, os massacres e repressões em massa - no estalinismo, no jihiadismo, no maoismo, no castrismo...)? Proibir as ideologias totalitárias ofende 20% dos eleitores portugueses? Ora essa! Não ofende, seguramente, o PCP desde que se propôs "uma democracia avançada no limiar do século XXI" pois não? Então quem?

Ofende os estalinistas ortodoxos, que nos últimos anos cresceram e se multiplicaram (são mais do que as mães!) pelas faculdades, nas televisões e na Internet? Ofende, sim, e ainda bem.

Também ofendíamos muito os salazaristas quando lhes chamávamos fascistas antes do 25 de Abril. O que eles queriam era que disséssemos nacionalistas, católicos, conservadores, partidários de uma democracia orgânica, corporativa, musculada. Fascistas? Depois de Mussolini ter sido pendurado pelos pés e arrastado pelas ruas, depois da Guerra? Que horror!

Também hoje muitos dos bloquistas caseiros, para quem "o voto é apenas uma forma de luta", não gostam que lhes lembre como são totalitários e o nojo que isso é. Espero que a próxima Assembleia com poderes constituintes não tenha medo de chamar os bois pelo nome. Quem não gosta come menos.

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