domingo, 12 de julho de 2009

Quando Carrascalão pedia um navio que não fosse muito velho


Morreu Manuel Carrascalão, que presidia ao Conselho Nacional da Resistência Timorense a quando da consulta popular de 30 de Agosto de 1999, que conduziu à independência do território. Sofreu na pele a barbárie das milícias pró-indonésias,que lhe assaltaram a casa e mataram um dos seus filhos.

Menos conhecido é que também foi deputado à Assembleia Nacional por Timor antes do 25 de Abril. Na sua primeira intervenção em 12-12-1973 (Diário das Sessões, X Legislatura, pág 224 e seguintes) falou da "entranhada devoção a Portugal" dos timorenses, que pouco recebiam em troca, a julgar pelos pedidos de Manuel Carrascalão logo apresentou ao Governo de Lisboa.

Pedia "um navio que não seja muito velho" para o escoamento dos produtos e ligações marítimas com o exterior, "dado que o navio da Companhia Nacional de Navegação mantém uma carreira irregularíssima, sem datas certas, e com uma frequência que raras vezes atinge as três viagens por ano".

Também defendia "a imperiosa necessidade de existir em Timor, pelo menos, um avião, em bom estado", com capacidade e autonomia suficientes para o serviço,"porque ninguém ignora que Timor é uma ilha". Não havia nenhum.

Reclamava ainda "professores de mais elevado nível de competência", tanto para o liceu como para a escola técnica, "sem o que os alunos que os frequentam não sairão habilitados para ingressar em qualquer curso superior".

Faltavam quatro meses para o 25 de Abril. Sem se dar conta, parentemente, Manuel Carrascalão fazia um balanço de grande crueza dos 400 anos de missão civilizadora de Portugal em Timor.

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