quarta-feira, 29 de julho de 2009

À glória do nosso Augusto Invicto Pio Presidente

Quando D José em 1766, sete anos depois da execução dos Távoras e do banimento dos jesuítas, inaugurou o grande celeiro da capital do Reino, ali no actual Terreiro do Trigo, fê-para "desterrar" da cidade "a impiedade dos monopólios", e assim "segurar a abundância de pão" aos moradores da sua nobre e leal cidade de Lisboa.

Assim como o Presidente da República quando pede ajuda ao Tribunal Constitucional para vetar uma Lei que quer obrigar os pequenos proprietários a reparar os prédios devolutos sob pena de lhes serem retirados e vendidos a quem der mais e se comprometer a recuperá-los. Que horror: quem vende não tem dinheiro para as obras (ou prefere deixar cair os prédios), como deriva do seu direito de propriedade total e absoluto. Que escândalo: quem compra são os monopólios sem piedade, que "todo lo quieren". Ouvi há bocado na Televisão Helena Roseta, tão amiga dos pobres e tão amiga de Cavaco: parecia aquela Helena Roseta dos "críticos" - que juntamente com Santana Lopes e Paulo Portas tudo fazia para derrubar Balsemão o Primeiro-Ministro do seu Partido e estendia a passadeira a Cavaco Silva para o substituir. Helena derretia-se toda em louvores ao Presidente por mais este veto anunciado. Que o TC não deixará de dar uma mãozinha ao Presidente que tanto o promove e solicita.

Assim será, está escrito. Podem começar desde já a esculpir na pedra aquela inscrição que falhou na obra faraónica, à glória de Cavaco Silva, que foi o CCB, que custou muitas centenas de milhões de euros (o que ainda hoje custa) e escapou ao controlo do Tribunal de Contas, como a posteriori provou o seu antigo e saudoso Presidente António Sousa Franco. Podem começar já a esculpir na pedra o elogio de Cavaco à imagem e semelhança do que ficou a perpetuar a memória do Rei e para melhor leitura aqui se reproduz:
JOSEPH: I
AUGUSTO INVICTO PIO
REY E PAY CLEMENTISSIMO
DOS SEUS VASSALLOS
PARA SEGURAR A ABUNDÂNCIA DE PAÕ
AOS MORADORES DA SUA NOBRE E LEAL CIDADE DE LISBOA
E DESTERRAR DELLA A IMPIEDADE DOS MONOPÓLIOS
DE BAIXO DA INSPECÇÃO DO SENADO DA CÂMARA
SENDO PRESIDENTE DELLE PAULO DE CARVALHO DE MENDONÇA
MANDOU EDIFICAR DESDE OS FUNDAMENTOS ESTE CELLEIRO PUBLICO.
A N N O M D C C L X V I

Vem aí o Centenário da República. Devia aproveitar-se a efeméride para começar a gravar para a posteridade as glórias dos nossos Presidentes. São tantas. Só Cavaco Silva já tem uma dúzia delas e ainda nem sequer terminou o primeiro mandato. Se depois de tantos esforços, o povo tão amado não fizer o que o Presidente quer... no segundo mandato teremos mais vetos do que as pedras da calçada.


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