terça-feira, 2 de março de 2010

Madeira, o outro lado da tragédia e ponto final

Estive três semanas fora, longe, muito longe. Claro que soube da tragédia da Madeira (que não é só política, como se viu), das muitas dores, das gentes de lá e cá, e o primeiro que me apeteceu dizer foi uma observação que me ocorreu descíamos nós do Monte de autocarro a caminho da Rua Visconde do Anadia, Mercado dos Lavradores, Praça da Autonomia, Almirante Reis, a baixa do Funchal:

─ "O arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles é que não ia gostar nada disto"

Sucediam-se as ladeiras estreitas, a pique, e as curvas de meter medo. Deviam ser de sentido único, mas não eram, havia carros estacionados nas bermas, que obrigavam a perigosíssimas paragens e marchas atrás, para deixar passar quem vinha de frente. Ao lado viam-se as ribeiras emparedadas, em ziguezagues, sem o cuidado sequer de lhes arredondar os ângulos, o betão a invadir o leito dos rios.

Foi isso que me lembrou a tese de Ribeiro Teles, antiga e comprovada. As margens dos rios, com vegetação natural, a chamada mata ciliar, são uma espécie de esponja para as águas sujas que passam, funcionam como uma continuada estação tratamento, além de combaterem a erosão, tanto mais perigosa quanto maior o declive das águas que correm. As margens dos rios não gostam de ser aprisionadas pelo betão, um dia zangam-se, saltam para fora, levam tudo à frente, vingam-se.

Sim, sei que as catástrofes acontecem, não são culpa de ninguém. Não, não previ a tragédia, não sou cientista do ambiente.

Mas tenho bom senso. Alberto João Jardim vai ter agora ainda mais dinheiro para gastar. Alguém que o controle - precisa-se.


4 comentários:

  1. A mim o que me preocupa é que ele prepara-se para fazer os mesmos erros. Ouvi-lo dizer que vai afundar as ribeiras arrepiou-me. Aumentar a capacidade de transporte das ribeiras por aumento da profundidade, no caso da Madeira, não resolve, só aumenta a turbulência em caso de cheia. O problema não é a capacidade de transporte liquido das ribeiras encanadas, O problema é a capacidade de transporte de sólidos e isto só se consegue dando às ribeiras largura e não altura.
    Enquanto o Alberto João estiver convicto que "a natureza existe para servir o homem" estamos mal.

    ResponderEliminar
  2. Nem mais. Ainda por cima outro amigo do betão, agora seu amigo e protector, que é Cavaco Silva, já foi lá dar-lhe os amens. Ele faz o que quer. E há-de continuar impune, na Assembleia da Madeira como na Assembleia da República, até ao fim dos tempos. Arrepiante, de facto! Quanto mais se lhe enche o bandulho mais asneiras faz.

    ResponderEliminar
  3. Carradas de razão. Bom regresso, José Teles. A viagem ao Vietname correu bem ? Abraço.

    ResponderEliminar
  4. Francisco, que bom ouvi-lo de novo, temos de nos encontrar! Vietname? Nem calcula, trago matéria para uma vintena de posts, pelo menos. E tb estive no Camboja, a ver os templos de Angkor (do tempo do nosso Afonso Henriques, o avanço que nos levavam!), e os "killing fields", dos "nossos amigos", khmers vermelhos, que estão a relançar-se agora, a três, como o nosso Bloco de Esquerda!

    ResponderEliminar