sexta-feira, 19 de junho de 2009

Assim não vai lá: Sócrates não pode recuar mais

Em política quando se põe uma pistola em cima da mesa é para se usar, não se pode fazer bluff. Ouvi esta máxima, nestes termos exactos, se bem me lembro, do ministro José Sócrates quando toda a Oposição, incluindo alguns dos seus camaradas e amigos, como Manuel Alegre e Vital Moreira, diziam o piorio da coincineração. Sócrates enfrentou manifestações, providências cautelares, insultos e campanhas visando abatê-lo. Aguentou-se, não vacilou. É verdade que perdeu o primeiro assalto, quando Ferro Rodrigues perdeu para Durão Barroso, e ele foi substituído no Ambiente por Isaltino de Morais. Mas cimentou a sua reputação de homem determinado, contra o facilitismo, e o populismo, e a demagogia.

Pode agradecer à guerra sem quartel que lhe fizeram na coincineração (e aos apoios que teve dos cientistas independentes e da opinião não escrita) as vitórias que dois anos e meio depois teve no PS, e em seguida no País, quando à campanha da coincineração se seguiram contra ele as primeiras campanhas negras, do Freeport à sua vida privada.

Sócrates, quando resistiu e contra-atacou, devolvendo os golpes recebidos na mesma moeda, ganhou força e respeito, populares. Perdeu as europeias? Acontece: lembram-se dos resultados de Cavaco Silva nas europeias de 1987? No mesmo dia em que averbou a primeira maioria absoluta de um só partido, com 2.850.784 e 50,22% dos votos, registou nas europeias 2.111.828 e 37,45% dos votos: menos 740 mil votos, no mesmo dia e com a mesma baixa abstenção, 27,5%.

As europeias não servem como barómetro do estado do País. Devia saber disso o CDS que naquele mesmo dia de 1987 fez o mais brilhante resultado a nível europeu, 4 em 25 deputados, e ficou reduzido à dimensão interna do "partido do táxi". Sócrates fez mal em deixar-se intimidar.

Sócrates está a "descaracterizar-se" - Luís Filipe Menezes tem razão nesse ponto - a olhos vistos. É verdade que as forças que se movem contra o PS são poderosas: vão de Belém à S. Caetano, e vice-versa, assentaram arraiais nas televisões e nos jornais, vetam, puxam para trás, param, bloqueiam, são reaccionárias até ao tutano.

Por isso mesmo. Sócrates devia pôr a pistola em cima da mesa e dispor-se a usá-la, se for preciso. Dizer, como Cavaco Silva em 1991, que "o País não pode parar". Que se não ganhar as eleições, se lhe faltar um deputado que seja para a maioria parlamentar, não poderá continuar a fazer frente a um Presidente da República adverso, mancomunado com uma líder "deprimente" da Oposição, a braços com os extremistas de esquerda, para quem o voto é apenas uma forma de luta e nem sequer a mais importante.

Sócrates deve dizer que ou ganha ou vai-se embora. Fica o País à mercê de Manuela Ferreira Leite ou de Francisco Louçã - o Povo que decida.





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