domingo, 16 de maio de 2010

Invejas de classe "defenestraram" Garzón

Garzón "defenestrado" pelos seus pares. Como Miguel de Vasconcelos, o primeiro iberista, no seu tempo, se me permitem a provocação. Ou como os fascistas levantam cabeça em Espanha e e é de chorar.

Ou como as invejas de classe são as mais perigosas das invejas, e o povo nada pode contra elas. Veja-se em Portugal o que os tipos do Ministério Público (com o denodado apoio do PP português) fizeram àquele seu colega, Lopes da Mota, que gostava de discutir Direito, que tinha como "crime", no currículo, o ter sido chamado para uma secretaria de Estado da Justiça e ter aceite, cujas qualidades humanas e jurídicas o tinham levado a ser eleito pelos seus pares, de todos os países, para Presidente do Eurojust.

E veja-se agora em Espanha o que fizeram ao juiz Baltazar Garzón por ter querido investigar crimes do franquismo, tendo para tal tomado decisões passíveis de recurso, que foram recorridas, e alteradas, em toda a normalidade, pelos tribunais superiores. Que decisões? Considerar que existem fundados indícios de os falangistas, no seu tempo, e o ditador Franco, em primeiro lugar, terem cometido crimes imprescritíveis, universalmente considerados inamnistiáveis, genocídios, crimes contra a humanidade, que podiam ainda ser investigados, pelo que seria útil abrir as valas comuns, identificar os mortos, alguns deles pelo menos, e dar-lhes sepultura condigna, um mínimo de justiça, às suas memórias.

Garzón perdeu nos recursos e obviamente conformou-se como acontece todos os dias a todos os juízes. Fim de papo? Não em Espanha. Onde sobrevive uma organização chamada Falange, onde merecem acolhimento, e ajuda judicial, as teses de um sindicato dos ultras do franquismo, que usurpou o nome de "Mãos Limpas" aos martirizados juízes italianos das lutas anti-mafia. Onde um partido, o PP espanhol, se comporta como herdeiro e legatário do franquismo.

Falange, PP, Mãos Limpas, recorreram ao Supremo. Em termos, aliás, técnicamente impróprios. Mas um juiz do Supremo, que em tempos tinha mandado arquivar um caso de narcotráfico que Garzón mandou reabrir e fez furor nos media, resolveu "amparar" as petições dos ultras, ordenando a correcção dos erros em vez de as indeferir como "ineptas" que eram. Um juiz acintosamente parcial. Também negou provimento a todas as diligências requeridas por Garzón em sua defesa, com uma agressividade que faz lembrar o nosso procurador de Aveiro. E acusou Garzón de... prevaricação.

Por isso Garzón acaba de ser suspenso de todas as funções judiciais. Por unanimidade. O que é arrepiante, sobretudo quando se lê o despacho de Varella, as acusações do PP, as alegações dos fascistas espanhóis.

Nem tudo está perdido. Como dizia um poeta, ibérico, nosso,
"mesmo nos tempos mais tristes,
em tempos de servidão,
há sempre alguém que resiste,
há sempre alguém que diz não".
Falo do Juiz José Ricardo de Prada, que em entrevista ao El País, denuncia as vinganças em curso no aparelho judicial, as lutas pelo poder, que levam tudo à frente.

Também aconteceria em Portugal se um dia aparecesse um juiz com a coragem de Garzón! Descansem os corruptos, os narcotraficantes, os terroristas, os salazaristas, que não vai aparecer.



3 comentários:

  1. Gande Post José Teles! Grande post!
    Os meus Parabéns e obrigada pelo quanto me ensinou, em tão pouco tempo! Bem haja! :)

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  2. abraço
    força e coragen nesta nossa luta solidaria

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  3. Fada, obrigado pela amabilidade.
    Aires, abraço para si tb.

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