A Assembleia da República pôs-se ao lado de Manuela Moura Guedes contra o Governo. Ao fazê-lo, deixemo-nos de subterfúgios, valida as escutas do juiz de Aveiro, ao próprio Primeiro-Ministro, desautoriza o Presidente do Supremo e do Procurador-Geral da República, chama mentirosos a Zeinal Bava, a Henrique Granadeiro, e a todos quantos na comissão de inquérito disseram o contrário, sobre o frustrado negócio da compra pela PT de uma participação minoritária do capital da TVI.
A Assembleia da República aprova assim, diga o que diga, uma virulenta moção de censura ao Governo. Cria uma situação "insustentável" ao Governo, como, por antecipação, já decidiu o Presidente da República. Que se for coerente demite o Governo, porque está em causa "o regular funcionamento das instituições".
Mais: a Assembleia da República alinha com o tipo de jornalismo praticado pela TVI, pelo semanário "Sol", pelo jornal "Público", e pelo "Correio da Manhã". Aliás, já tinha dado provas disso quando impediu que fosse levado a julgamento o deputado do Bloco de Esquerda José Manuel Pureza, do BE, que caluniou, miseravelmente, um deputado do PS por Coimbra e assim conseguiu ser eleito por esse mesmo círculo.
Há moção de censura, e pouco adianta clamar que é "iníqua" ou que "desonra" a Assembleia. Existe uma moção de censura, mesmo se o PSD decidiu atirar a pedra e esconder a mão. É uma hipocrisia do PSD de Passos Coelho. Assim como é uma hipocrisia do CDS, do PCP e do Bloco, em uníssono. Só que é irrelevante que seja "iníqua", "hipócrita", "mentirosa", "alinhada" com o que há de pior no jornalismo e na magistratura portugueses. É uma moção de censura que existe. E deve ter consequências.
O Presidente deve demitir este Governo, deve chamar Passos Coelho, líder do maior partido da nova maioria que se formou na AR ─ PSD, CDS, BE, PCP, PEV ─ a formar Governo. Era o que devia ter feito Eanes, em 1977, quando caiu na Assembleia o Governo do PS sozinho. E foi por não o ter feito que vivemos três anos de grande instabilidade política com prejuízos graves para o País.
Cavaco deve demitir Sócrates. E se não for possível formar um novo Governo com esta Assembleia deve convocar novas eleições. Como fez Eanes em 1985, a seis meses do fim do mandato, quando a pedido de Cavaco Silva demitiu o Governo do Bloco Central, sem que qualquer votação formal nesse sentido tivesse sido aprovada na Assembleia.
Há moção de censura. E se Cavaco, depois de ter julgado "insustentável" a situação e depois da condenação do Primeiro-Ministro na Assembleia, não demitir o Governo, é o Primeiro Ministro que deve apresentar a demissão. Porque foi censurado, porque está ferido de morte, porque não tem condições de governar, porque o País merece um Governo com legitimidade na plenitude da sua força.
Porque, como diz o Povo, quem não se sente não é filho de boa gente. José Sócrates, obviamente, se a Assembleia e o Presidente da República não assumirem as suas responsabilidades, deve dar-se ao respeito e demitir-se de imediato. Não podemos viver mais dois anos inteiros neste pântano político. O País não merece. E Sócrates também não.