Começo pelo PS que é a Partido em quem votei em 53 das 57 eleições que tivemos depois do 25 de Abril (contando que uma vez não votei, estava fora do País, outra votei para a Junta de Freguesia no meu padeiro, que era do CDS, outra votei no Cavaco, e dessa não me arrependo, e uma outra votei no Capucho, aqui em Cascais). Também votei uma vez no Manuel Alegre, suponho que essa também deve ser inscrita na coluna do PS.
Isto é, 53 vezes votei PS, e isso é uma coisa que os PS's que conheço não me agradecem mesmo nada. Porque sou um crítico e o PS oficial detesta-me. Digo o que penso, correndo o risco às vezes de ser injusto, mas faço, sempre, o que me parece justo e mais interessa ao País: voto sempre a pensar que o meu voto pode fazer toda a diferença, dar uma maioria absoluta (coisa de que eu gosto!) ou não, enterrar-nos no marasmo ou fazer o País andar para a frente. Isto é que muitas vezes, à última hora, porque feitas as contas são os menos maus ou os de quem me sinto solidário, porque merecem ou porque os outros não prestam mesmo, acabo quase sempre, 53/57 vezes, contei-as, por votar no PS.
Ia ser assim desta vez, há um mês, considerando que o Sócrates se portou como um estadista dos quatro costados e não teve medo de enfrentar os obscurantistas que foram contra a co-incineração, os incompetentes dos professores (que os há, e são sindicalizados!), os negocistas dos médicos, os interesseiros dos juízes, os militantistas do Ministério Público, os facilitistas em geral e os demagogos em particular, além do pouco caso que fez, honra lhe seja, à cultura "engagée", que é uma coisa obscena, ao delírio "tremens" da TVI e do Público (sem contar com o abrupto, a Sic Notícias e o 31 da Armada), e à hipocrisia sabotadora do PR, que é o que mais me dói. Foi vítima da mais miserável, e orquestrada, das campanhas de ódio desde Sá Carneiro, que morreu num acidente, quero crer, e/ou desde o Rei D. Carlos, que foi assassinado. Sócrates sobreviveu a tudo isso e ia ter o meu voto.
Ia ser assim mas agora tenho dúvidas. E esta é a primeira coisa que chateia no PS: a santa ingenuidade com que abriram as suas listas ao militantismo gay. Entendamo-nos que os homosexuais casem ou descasem não me aquenta nem me arrefenta, não vejo por que a Lei há-de proibir, se fazem questão. Eu é que não me tinha apercebido que isso tivesse alguma importância para eles e conheci, conheço, uma data de homossexuais. E pelo menos até há algum tempo nenhum deles me parecia particularmente infeliz por não poder casar. Pelo contrário. Mas enfim...
O que me irrita no "entrismo" dos gays, a esse título, nas listas do PS é que o fazem com uma motivação exclusiva: "foutre la pagaille" nas listas do PS. Basta ver o manifesto que publicou Miguel Vale de Almeida a pedir desculpa aos seus correlegionários de ter aceite o convite de Sócrates, e a campanha absolutamente heterofóbica que tem movido o Jugular. Incomoda-me: sou heterossexual, adoro mulheres, em especial a minha, actual. Reivindico, e assumo, o meu direito à diferença. Comovi-me à brava com o filme "Cenas de Caça na Baviera"! Mas acho mal quando os homossexuais lá porque foram perseguidos, e de que maneira, passem a comportar-se como perseguidores. Assim como os bolcheviques, antes e depois, da Revolução de Outubro.
A inclusão de Vale de Almeida e de outros será um bico-de-obra para o PS se tiver de contar com o seu voto em alguma votação importante. Bem pior do que a deslealdade de Manuel Alegre (e amigas) e a sabotagem de Cavaco Silva. Sei que querem legalizar o casamento homossexual e não tenho quanto a isso nenhuma objecção (quanto ao direito de adopção, sou contra). Agora a inclusão de velhos militantes homossexuais carentes de protagonismo, junto dos jovens, é que me parece uma grande imprudência.
E é uma das coisas que me chateia na campanha eleitoral em curso.
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