segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O meu programa reivindicativo: a reforma eleitoral

Defendi que um sistema eleitoral que conduz à sub-representação do Interior em relação ao Litoral é desproporcionado e não pode continuar. Acrescento agora que os povos de Vila Real e Bragança, da Guarda e Castelo Branco, de Portalegre, Évora e Beja, que não beneficiaram dos milhares de milhões da regionalização, dos nossos impostos, que ao longo destes 35 anos escorreram para os luxos, até futebolísticos, de Alberto João Jardim (e que continuarão a fluir sem controlo se Manuela Ferreira Leite ganhar as próximas eleições), merecem, os povos do Interior, pelo menos a consideração de uma reforma eleitoral que não os prejudique mais.

Uma reforma como a que proponho a seguir já uma vez chegou ao Parlamento, da iniciativa salvo erro de Fernando Nogueira, ministro da Presidência. Esbarrou, então, nos gritos de desespero do "partido do táxi", que era o CDS, nas ameaças de insurreição permanente do PCP (como a que praticou com sucesso nesta legislatura em defesa dos camaradas professores, dos camaradas médicos, dos camaradas juízes e demais camaradas nas mais altas posições do aparelho de Estado).

Sem razão alguma: o PCP já esteve à beira de eleger um deputado por Castelo Branco (chamava-se João Amaral), o CDS já teve um deputado por lá (era Carlos Robalo). Ora a partir do momento em que os círculos da Beira Interior, de Trás-os-Montes, do Alentejo, tenham 9 ou 10 deputados a eleger todos os partidos têm hipóteses de eleger os seus representantes lá.

Se se mantiverem as tendências actuais, até mesmo o Bloco de Esquerda pode alargar a sua representação aos lugares mais recônditos do território nacional. Claro que seria uma tragédia para a democracia portuguesa e nos colocará ao nível do País Basco quando deixam concorrer a Herri Batasuna amiga do Bloco. Mas "o Povo é quem mais ordena", em Portugal como na Venezuela, nas Honduras, na Bolívia, no Equador, na Líbia ou no Irão...

Ninguém manda nos votos. O que nos ocupa é que sendo o sistema proporcional (defendemos que melhor, mais responsabilizador e mais governável, seria um sistema que assentasse na eleição dos deputados em círculos uninominais, a duas voltas) não deve comportar batotas como as dos deputados da emigração, nem desequilíbrios, como os actuais.

Por isso propomos uma divisão em círculos, como a que se segue, que defende círculos com continuidade territorial, respeitando os limites dos concelhos, comportando todos mais de 200-250 mil eleitores e menos de 400 mil, com a excepção da cidade de Lisboa.

Círculos Eleitorais para proporcionalidade

Círculos cf. novas regras

Eleitores* e deputados

Concelhos abrangidos

Lisboa Cidade

532 587

13/14 dep**

Lisboa

Lisboa Amadora Sintra

431 119

11 dep

Amadora, Sintra

Lisboa Oeiras Cascais

303 435

8 dep

Cascais, Oeiras

Lisboa Torres

Oeste

297 575

8 dep

Alenquer, Cadaval, Azambuja, Lourinhã, Mafra, Odivelas, Torres Vedras, Sobral de Monte Agraço

Lisboa Loures

Vila Franca

280 048

7 dep

Arruda dos Vinhos, Loures, Vila Franca de Xira

Porto Matosinhos

379 081

10 dep

Porto, Matosinhos

Porto Gaia

390 375

10 dep

Vila Nova de Gaia, Gondomar

Porto Maia Norte

403 310

10 dep

Maia, Póvoa de Varzim, Trofa, Santo Tirso, Valongo, Vila do Conde

Porto Penafiel Interior

367 646

9 dep

Paredes, Amarante, Baião, Felgueiras, Lousada, Paços de Ferreira, Penafiel, Marco de Canavezes

Braga Barcelos Litoral

404 487

10 dep

Barcelos, Braga, Esposende, Vila Nova de Famalicão

Braga Guimarães Interior

367 646

9 dep

Amares, Cabeceira de Basto, Celorico de Basto, Fafe, Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Torres de Bouro, Vieira do Minho, Vila Verde e Vizela

Setúbal Almada Norte

382 518 9 dep.

Almada, Barreiro, Seixal, Sesimbra.

Setúbal Cidade Interior Sul

319 276

7 dep

Setúbal, Alcácer do Sal, Alcochete, Grândola, Moita, Montijo, Palmela, Santiago do Cacém, Sines

Aveiro Norte Stª Maria da Feira

344 728

8 dep.

Sta Maria da Feira, Arouca, Castelo de Paiva, Espinho, Oliveira de Azeméis, Ovar, S. João da Madeira e Vale de Cambra.

Aveiro Cidade Sul

306 595

7 dep

Aveiro, Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Estarreja, Ílhavo, Mealhada, Vagos, Murtosa, Oliveira do Bairro, Sever do Vouga

Leiria

425 958 10/11 dep*

Os concelhos do actual distrito e círculo eleitoral

Santarém

407 740

10 dep

Os concelhos do actual distrito e círculo eleitoral

Coimbra

398 038

10 dep

Os concelhos do actual distrito e círculo eleitoral

Trás-os-Montes

400 482

10 dep

Todos os concelhos dos actuais distritos de Vila Real e de Bragança

Alentejo

397 375

10 dep

Os concelhos dos actuais distritos de Beja, Évora e Portalegre

Viseu

391 528 9/10 dep*

Todos os concelhos do actual distrito e círculo eleitoral

Beira Interior

379 482

9 dep

Todos os concelhos dos actuais distritos de Castelo Branco e da Guarda

Faro

350 804

8 dep

Todos os concelhos do actual distrito e círculo eleitoral

Viana do Castelo

262 912

6 dep

Os concelhos do actual distrito e círculo eleitoral

Madeira

258 582

6 dep

Os concelhos da actual região autónoma e círculo eleitoral

Açores

223 784

5 dep

Os concelhos da actual região autónoma e círculo eleitoral


*Baseámos os cálculos na Mapa do Recenseamento Eleitoral publicado no DR em 4/03/2009, que tem os recenseados em cada concelho, e não nos dados comunicados à CNE em 29 de Julho, após limpeza dos cadernos, porque apenas contêm os números globais de cada distrito. De facto, após limpeza, os números reais revelam uma baixa generalizada dos inscritos em 1-2%. De qualquer maneira o cálculo do número de deputados a atribuir a cada círculo eleitoral sempre depende da CNE dois meses antes da votação.

**Conforme se mantenham ou não “os deputados pela emigração”. Defendemos que não se justificam, porque são infiscalizáveis na eleição e inúteis na acção: não servem, nem interessam, aos emigrantes, além de que o seu número, a maneira como são eleitos e a participação residual dos votantes em alguns, poucos, locais da emigração descredibilizam o sistema e ofendem vários princípios constitucionais. Aliás não existem em mais nenhum país do mundo. O que todos os Estados aceitam e promovem é o voto dos emigrantes no seu círculo de origem, verificado nos consulados e validado nas mesas eleitorais de que são originários, antes da abertura das urnas. Como se faz na América, e em todos os países da Europa, excepto em Portugal. Somos o único que permite e se conforma com a possibilidade de “chapeladas”.

Os cálculos fi-los com dados do Mapa de recenseamento eleitoral publicado em Março. Houve uma limpeza dos cadernos a seguir com reduções marginais e generalizadas do número de inscritos. Suponho que ainda não foram publicados no Diário da República os números finais dos inscritos por concelho, e penso que a limpeza dos cadernos irá continuar. Pelo que no final pode acontecer uma ou outra "disparidade" de pequena monta com o que aqui se descreve. Não altera o fundamental.

Vou "estar de olho" nas reformas eleitorais que propõem, vão propor, uns e outros.



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