O Duarte Pio é ainda pior que o Cavaco

Sou republicano.

Primeiro porque sou português e o candidato a Rei que temos "é uma merda" (e cito o próprio, a propósito de um livro, que não leu, mas que tinha sido censurado, pessoalmente, por um antigo deputado de um partido monárquico, António da Costa de Albuquerque de Sousa Lara, 2º Conde de Guedes, 4º Marquês de Lara (uma família de "negreiros", como revelou Francisco Sousa Tavares, que deram nome de Lara a uma cidade no Leste de Angola). Lara é que é o monárquico típico português, não é Gonçalo Ribeiro Teles nem Nuno da Câmara Pereira. Lara, a censura, o fanatismo religioso, a pesporrência (reparem nas causas em que se empenhou o "Rei" Pio) é que podem esclarecer-nos sobre o que no fundo no fundo defendem os monárquicos portugueses partidários de tal Rei. Que são os meninos-bem do 31 da Armada. Os mesmo que ainda recentemente foram ao Congresso do PS com o propósito exclusivo de minuto a minuto,em directo, no blog, gozar com tudo o que por lá se dizia. Os caceteiros do D. Miguel, antepassados daqueles meninos, não fariam melhor se voltassem à Terra.

Segundo: sou republicano porque sou agnóstico. Conheço, estudei, respeito, mas estou fora. Para mim os direitos dos católicos valem tanto como os daqueles que o não são. Por isso não me venham dizer que o livro que levantou as iras de Lara foi "O Evangelho segundo Jesus Cristo", um evangelho "apócrifo", e não reconhecido pela Santa Madre Igreja, porque argumentos desses passam-me ao lado. Eu quero lá saber do que diz Bento XVI. O último papa que me mereceu respeito e consideração totais foi João XXIII.

Não me digam sequer que o verdadeiro censor do livro Saramago nem foi Sousa Lara, nem mesmo Santana Lopes, de quem era ajudante, mas sim Cavaco Silva em pessoa com a ajuda ou por exigência da extremosa esposa, que na altura ainda não tinha ido à Capadócia, mas já uma língua de fogo, o Divino Espírito, tinha descido sobre o divino casal, o qual por isso, já então, os dois em coro, celestial, nunca se enganava e raramente tinha dúvidas.

Preocupa-me mais observar como a mesma personagem ainda hoje nunca se engana quando manda as suas alegadas dúvidas ao Tribunal Constitucional. Calculo que também esse Divino Tribunal, espécie de Santo Ofício, recebeu uma língua de fogo e por isso nunca tem dúvidas quando "chumba" as leis votadas pelos representantes da maioria dos portugueses.

Um tribunal assim não existe em nenhum dos países que conhecemos? Pois não. É a parte de direito divino derramado sobre o corpo republicano da Constituição. Que havia uma legião de constituintes, de raiz monárquica e inspiração religiosa, para quem era preciso desonfiar sempre do poder legislativo dos representantes do Povo para isso eleitos, sobrepor-lhe o direito divino do PR em vetar, e o direito divino de um TC, com a sapiência suprema de definir o que está conforme (ao que eles pensam que devia ser) e o que não está. O Santo Ofício nã fazia outra coisa.

Porque sou português, agnóstico, democrata, eu republicano me confesso. Se fosse espanhol, ou britânico, é provável que não precisasse de ser republicano. Aí os chefes de Estado não se comportam como líderes de Oposição, não censuram nem mandam censurar, não proclamam um das obras maiores da literatura portuguesa uma merda, sem a terem lido, nem lhe atiram pedradas escondendo depois a mão. Que foi o que fez D. Aníbal Cavaco, 1º Marquês de Boliqueime, e a Sua Senhora da Capadócia.

Aqueles meninos do 31 da Armada, com tantos títulos de nobreza, que foram à CML hastear a bandeira da monarquia estão na linha de D. Cavaco e D. Duarte Pio. Cheiram a sacristia que tresandam. Só por isso sou contra. De resto a bandeira vermelha e verde (se tivesse sido essa a substituída) é feia que se farta. O azul e branco tem muito mais a ver com a nossa Terra, o nosso Mar, o nosso Céu.

Ah, e já me esquecia, também acho que o assassinato de D. Carlos e a campanha de ódio que lhe deu origem (tão semelhante àquela em que se envolveu o 31 da Armada contra o PS e o PM José Sócrates) foram crimes tremendos. Como a ditadura de Salazar, que os monárquicos apoiaram a 90 por cento. Como o caceteirismo miguelista, de que descendem os actuais arautos, protocolares, da monarquia lusitana.

Querem defender a monarquia? Comecem por encontrar um patriota honrado, liberal, tolerante. Que tal um descendente da Infanta Ana de Jesus Maria, irmã de D. Pedro e de D. Miguel, daqueles que sempre estiveram com a revolução liberal e contra o obscurantismo, daqueles que nunca foram condenados por um parlamento democrático português por alta-traição e que por isso não tiveram de ser absolvidos 120 anos depois por um parlamento fascista?