sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O triunfo dos especuladores


Pois regresso às lides. Àquela meia dúzia de leitores que repararam na minha ausência e me perguntaram as razões do meu silêncio, eu respondo: tirei férias, umas férias de nojo. Não que me tenha morrido alguém, desta vez não. Mas sinto que me estão a morrer todos os dias as ilusões: cada vez confio menos na União Europeia, nas vantagens do euro, no futuro da Pátria, nas glórias do Benfica.

Pois riam-se à vontade. A dura realidade é que vivemos numa espécie de "animal farm" e vamos assistindo impávidos ao "triunfo dos porcos". Depois da Grécia e da Irlanda, os capitalistas arrebanhados pela srª Merkel e pelo sr. Sarkozy (eles não nos querem no euro) começam a assetar baterias contra Portugal, e lá têm as suas razões (sei do que falo: viajo, falo línguas, e como dizia a Sophia, "vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar"). Temos...
  • a extrema esquerda parlamentar mais poderosa, e mais ouvida, nos media, do Atlântico aos Urais,
  • um Governo fraco, minoritário, sem ânimo nem força, cuja única missão, a única que os jornalistas lhe consentem, é fazer o papel de saco da porrada no agit-prop permanente das televisões e jornais,
  • um Presidente que apadrinha inventonas contra o Governo, que beneficia de negócios de acções, como no BPN, e passa os dias aos saltos nos média, a arrotar postas de pescada, "génio das banalidades" (ah, que saudades do Saramago!), ou, como se diz na minha terra, um lameirinho bem regado, de presunção e água benta,
  • uma Justiça sindicalizada, barriguda, corporativizada, preguiçosa, de fugir, que é um perigo para os cidadãos e para as actividades económicas.
E por aí adiante, foi por isso que tirei férias. Pois não melhorou nada desde que deixei de escrever, a prova de que a culpa não era minha. Ontem, regressado de Madrid (magnífico, sempre), fugi mais uma vez das televisões portuguesas e dos jornais (também para não ouvir os abutres sobre a derrota do Benfica em Israel!) acabei por fixar-me na Deutsche Welle como barulho de fundo.

Pois que dizem os sequazes da srª Merkel (que saudades de Helmut Khol!)? Que Portugal vem a seguir, já que se encontra em "deep recession"! É mentira, crescemos pouco mas crescemos, no último trimestre. Apesar do alarmismo que espalha a nossa extrema direita. Apesar da agitação da extrema esquerda.

E por falar de extrema esquerda: escrevo este post com a televisão ligada na CNN. Sabem qual uma das notícias em destaque, hoje, três dias passados sobre a greve geral? Esta: "Portuguese
workers take strike". Ainda? Nem mais: há notícias que rendem, rendem. Até que os capitalistas alemães e franceses ferrem o dente no que resta da carne. Ficam-nos os ossos.
Com esta extrema esquerda, com estes magistrados, com estes jornalistas de agit-prop - valerá a pena continuar no euro? Tenho muitas dúvidas.

4 comentários:

  1. Por essas e por outras, a Política desespera e cansa...
    Findo o nojo, toca a arregaçar as mangas e a aproveitar cada minuto de vida!... (Exactamente como Saramago...)
    Bom regresso, José!

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  2. Oh tão pessimista! Como diz a Manuela Caeiro toca a arregaçar as mangas, e principalmente, aproveitar cada minuto da vida! Haja saúde!..
    E claro... bom regresso.

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  3. Gente boa, já tinha saudades! Obrigado.

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