domingo, 10 de janeiro de 2010

Quando os cristãos se apoderaram do Império

Espero que já tenha ido ver o filme Ágora, de Alexandro Amenabar, o realizador hispano-chileno que fez aquela mariavilha do Mar Adentro, óscar para melhor filme estrangeiro em 2004, com a sublime Rachel Weiz no papel da filósofa Hypatia de Alexandria (na foto).

Não lhes vou contar o filme nem é preciso. Digo-lhes só que retrata a tomada do poder pelos cristão no império romano, no sec. IV, quando o Imperador Teodósio proclamou o cristianismo religião oficial do Império. Da vida e obra de São Cirilo, Bispo de Alexandria, Padre e Doutor da Igreja, um dos santos da especial devoção do Papa Bento XVI.

São Cirilo é contemporâneo de Santo
Ambrósio, Bispo de Milão, outro Grande Doutor da Igreja, que na mesma época liderava a ofensiva "talibã" contra os "ídolos pagãs" e defendia, contra o próprio imperador cristão, o direito dos cristãos destruírem as sinagogas.

Vale a pena lembrar alguns episódios daquela revolução cultural decretada cristã. Que se inicia em 19 de Fevereiro de 356, quando o Imperador Constantino II promulga um decreto a mandar fechar todos os templos pagãos do Império.

Só em Roma havia então 424 templos a múltiplos deuses, pelo que “em cada bairro de Roma a sensibilidade dos cristãos era ofendida pelos fumos dos sacrifícios idolátricos”, como conta o clássico de Edward Gibbon, Declínio e Queda do Império Romano, profusamente citado por Daniel J. Boorstyn, n’Os Criadores, e n’Os Pensadores, entre os quais se encontra Hypatia de Alexandria, ambos publicados em Portugal pela edições Gradiva.

Este foi só o início de um prec cristão que havia de durar uns 40 anos, levaria ao saque e destruição da Biblioteca de Açlexandria, de que o filme também trata, e estender-se aos confins do Império. Mas só em 391 o Imperador Teodósio acrescentou à ordem de encerramento “a destruição dos ídolos”, equiparando o crime de idolatria ao de lesa-majestade, punível com a pena da morte.

O cristianismo acabava de ser proclamado a Religião oficial do Império e não permitia tibiezas. Como os talibans hoje em dia. Como relata Gibbon:
Muitos desses templos eram dos mais esplêndidos e belos monumentos da arquitectura grega e o Imperador não estava interessado à partida em desfigurar o esplendor das suas cidades ou diminuir o valor das suas propriedades. Aqueles edifícios públicos poderiam ser tolerados como troféus da vitória de Cristo (…) Porém, enquanto durassem, os pagãos alimentariam a secreta esperança que uma revolução auspiciosa, um segundo Juliano, pudesse restaurar de novo os altares dos deuses, e o ardor com que dirigiam as suas vãs orações ao trono exacerbou o zelo dos reformadores cristãos decididos a extirpar, impiedosamente, a superstição pela raiz.
Voltaremos a este assunto.

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