Greves como na Grécia, greves nos transportes, que são as que mais doem e mais alarido provocam, greves na função pública, que são as mais fáceis, as de menos riscos para quem as faz, e as mais badaladas, que é só o que importa.
Greves com manifestações, transmitidas em directo em vários canais. Greves gritadas, agitadas, anunciadas, propagandeadas, antes, durante e depois, em programas acéfalos, sem contraditório que valha, que assim se conquistam audiências e se bota abaixo o fraco Governo que insiste em aguentar.
Fraco Governo em que o Povo insistiu também, apesar do estado de guerra em que decorreram as campanhas negras de magistrados e jornalistas conluiados, em honra dos quais se promove agora uma comissão de inquérito feroz por assunto banal, um negócio privado que não se fez, que pelos vistos não interessava a ninguém a não ser aos accionistas das empresas nele envolvidas, mas contra o qual o Presidente da República apelou à mobilização geral da Nação, mobilização que continua na Assembleia, contra o PM marchar, marchar!
Quem não se lembra do que dizia Manuela Ferreira Leite, há bem pouco tempo, ela que tem as certezas absolutas que se sabe: Portugal está no caminho da Grécia. Na altura, até o seu amigo e companheiro de armas, Aníbal Cavaco Silva, terá ficado incomodado, pelo menos fez de conta, que não lhe calha mesmo nada que o Governo caia já.
Portugal está no caminho da Grécia, olá se está! Por muito que digam os analistas é óbvio que "os mercados" olham para nós e nem se incomodam a fazer contas: o que lhes salta à vista é o exemplo grego que diariamente lhes damos.
Greves gritadas, ferocidade na vida pública, uma Assembleia que ofende todos os dias "o fraco Governo" - mas não tem a coragem de o fazer cair, um Presidente dissimulado, a fazer render a usura do Governo para não prejudicar a sua reeleição -- como é que não havíamos de ser considerados o próximo alvo a abater, se politicamente estamos muito pior?
Muito pior: o novo Governo grego tem maioria na Parlamento, não tem um Presidente que lhe promova inventonas desestabilizadoras, que esteja todos os dias no terreno a marcar as distâncias.
E sobretudo a Grécia não tem como nós a extrema esquerda mais numerosa e aguerrida da União Europeia, como se vê pela comissão de inquérito, como se vê pelo domínio da rua, como está à vista nos programas de escárnio e mal-dizer que pululam nas rádios, nos jornais e nas televisões.
Como é que havemos de esperar que tenham confiança em nós, se como a Grécia temos greves a dar com um pau, magistrados que em vez de dizer a Justiça dizem mal do Governo, dois partidos comunistas dois, no Grupo das Esquerdas Unidas do Parlamento Europeu? Temos dois partidos comunistas na UE, qual o mais sectário, mas com mais representantes do que os gregos: cinco comunistas e bloquistas de extrema esquerda para as nossas cores, três comunistas e esquerdistas radicais para os gregos.
Ganhámos aos gregos 5-3, em matéria de agitação e propaganda. Governo a ser agredido e nem se pode dar ao respeito que tem a Oposição ao ataque, a agitação permanente nas ruas e nas televisões, os jornais a disparar, o Presidente à escuta, e a berrar que é escutado, como convém na estória do lobo e do cordeiro, que é todo um retrato da política portuguesa.
Esperem-lhe pela volta.
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