quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Caminha resignado ao matadouro

Às vezes a manada, seguindo a passos conformados em direção ao abate, súbito entra em explosão a partir da reação atordoada de apenas uma rês. E irrompem todas as reses em direção ao nada, arrastando tudo pela frente e chifrando-se entre si. A frase é de Emir Larangeira, um escritor brasileiro, que descobri há pouco. Muito interessante, digo-vos eu.

Pois, meus amigos, esta é uma parábola que assenta como uma luva ao Governo de Portugal, desde que Cavaco Silva promulgou o adiamento sine die do Código Contributivo, com argumentos dignos do deputado da UDP Américo Duarte, "os ricos que paguem a crise", ou "o Governo que se desenrasque e arranje dinheiro para me pagar as minhas múltiplas e chorudas reformas".

O mais estranho de tudo é a mansidão (ia dizer a reacção de corno manso mas contive-me) com que o Governo e o PS reagiram à promulgação pressurosa de Cavaco daquela Lei Travão, que lhe corta os meios de fazer o que se propunha e o condena a vegetar por aí mais uns tempos, cercado e impotente. É assim como no poema de António Miranda Fernandes, que o Emir Larangeira, também ele, me revelou:

Saía a boiama confusa e cadenciada
Ruminando e olhando para o chão...
E de sinos dispersos, as badaladas,
Iam tocando a massa em procissão.
Em balada profética de triste agouro...
Com pegadas de sofrimento no sertão,
Caminhando resignada ao matadouro
Mugindo! Entoando, estranha oração.

O Governo caminha resignado ao matadouro, senhores ouvintes, a Oposição Unida jamais será vencida, e com esta evocação fechamos o ano de 2009. Mas atenção, o poema continua, o Primeiro Ministro vai regressar das suas férias na neve, amanhã é um novo dia, até mesmo um novo ano.
Voltarei ao assunto.

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