Pois, desta vez não desgostei! Falo da sua entrevista ao novo jornal i. Nos blogues, os destaques que vi são a aparente atrapalhação do candidato do PSD quando se confessa antigo "compagnon de route" do CDS/PP - "participei nuns conselhos" - e a ligeira confusão sobre a data da sua adesão formal ao PSD - "tenho um problema com as militâncias".
Foi o que me levou a ir ler na íntegra a entrevista de Paulo Rangel ao i. Pois no fim de contas, pela primeira vez nesta campanha, achei-o espontâneo e verdadeiro. Com posições desempoeiradas em várias matérias sensíveis.
Assume os ideais do federalismo europeu sem papas na língua (maizena ou outras) mas com realismo e estou de acordo com ele. Explica com total credibilidade as razões porque sendo favorável a um referendo europeu, concordou que na situação actual da Europa se justificava "um avanço mais intergovernamental do que popular", o que também me pareceu sensato.
Também demonstra ter ideias arejadas, e no fundo muito críticas, quanto às mais polémicas das posições da Igreja Católica, de que faz parte. É pela ordenação das mulheres, pelo fim do celibato dos padres. Assume-se como "radical activista" contra as posições da Igreja em matéria de anticonceptivos e na questão dos homosexuais. Se Bento XVI sabe disso ainda manda excomungá-lo.
Em conclusão, Rangel quanto à sua posição na Igreja vai mais longe do que ia Guterres em 1995 em vésperas da sua primeira vitória eleitoral. Sei porque o entrevistei então para o Semanárioe lembro-me perfeitamente como as posições descomplexadas de Guterres a favor da ordenação de mulheres e contra o celibato dos padres escandalizaram alguns católicos ortodoxos como Marcelo Rebelo de Sousa.
Fico a aguardar com cufriosidade a nota que o Professor Marcelo irá dar ao seu "mau aluno" Rangel na sua próxima homilia dominical. Por mim acho que foi a sua melhor entrevista até hoje. Continuo a pensar que o Vital Moreira é o melhor dos 5. Mas ainda faltam mais de duas semanas para as eleições europeias.
Sabes bem que o que eles dizem nem sempre é o que lhes vai na alma. Então se estão em campanha eleitoral, nada lhes sai pela boca fora sem ter sido ponderado à luz do voto... esse Rangel sabe que precisa de ganhar o centro ao Sócrates e daí esse discurso mais suave, quase de esquerda.
ResponderEliminarÉ verdade. Acontece que "esse discurso mais suave" não durou muito. O Rangel voltou a ser azedo e exasperante todos dos dias. A afinar pelo tom do Bloco de Esquerda. Mas isso é assunto para outro post.
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