Os islamistas triunfam na Tunísia, contra "a pesada herança" laica do regime anterior, culpado designadamente de ter despenalizado o aborto, enquanto na Líbia é proclamada "a sharia" e o primeiro exemplo que o líder dos rebeldes dá dos crimes de Kadafi é a passada limitação à poligamia, que readquire de novo todo o esplendor em nome do Corão.
Eu não sei se os aviões da NATO bombardearam hospitais e populações civis para derrotar Kadafi, se o ditador apalhaçado foi morto com requintes de crueldade semelhantes aos infligidos ao ditador Mussolini em 1945. O que não tenho dúvidas, porque salta à vista, é que "os aliados" jogaram à roleta russa com a Primavera líbia e se pretendiam abrir caminho a uma democracia mais respeitadora dos direitos fundamentais do que os regimes que ajudaram a derrubar o objectivo saiu-lhes furado.
Como no Afeganistão quando apoiaram os talibãs, de todas as maneiras e feitios, contra o regime progressista, laico, que se seguira à ocupação soviética. Os talibãs fizeram do Afeganistão um refúgio, e uma base, Al Qaeda, para os terroristas islâmicos? Pois chamem-lhes "moderados", convençam-se disso, e esperem-lhe pelo Inverno, "do nosso descontentamento", pela queda da Argélia e Marrocos, também, nas mãos dos fundamentalistas islâmicos.
"Os aliados" de hoje ─ Obama, Cameron, Sarkozy ─ estão a ser tão ingénuos com os rebeldes muçulmanos como Churchill e Roosevelt a lidar com Estaline. Será que ainda há volta a dar-lhe? Esperemos sentados.
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terça-feira, 25 de outubro de 2011
domingo, 22 de novembro de 2009
A mão de Henry e a honra da França
Não estou a brincar. A mão de Henry ─ que o árbitro não viu e deu o apuramento à França para a África do Sul ─ está a provocar um debate dramático, que caiu em voo rasante, como mosca na sopa, na grande questão da política francesa do momento: a preservação e o reforço da identidade nacional. La main de Thierry Henry et l’identité nationale! Como se vê.
Sarkozy ao proclamar o primado da identidade nacional francesa, lançou a primeira pedra, a bem dizer, deste debate. E vale a pena lembrar que o fez quando um grupo de energúmenos ─ jovens franceses, de origem magrebina ! ─ vaiou a Marselhesa num outro desafio de futebol, um França-Argélia, no Parque dos Príncipes, salvo erro, e não mais parou, até hoje. Que dá votos. E Sarkozy sabe tocar cordas sensíveis e chamar os bois pelos nomes. Como nos distúrbios das "banlieues" há dois anos quando "a canalha" incendiou milhares de carros durante dez dias.
A "a ideia da França", como dizia De Gaulle no seu tempo, é "virtude", é "coesão", é "grandeza" e o seu hino nacional, respeitado em todo o mundo, celebra valores que honram os franceses: a noção de justiça, uma vida partilhada de honestidade, exemplaridade, para o resto do mundo. É uma espécie de "França, ame-a ou deixe-a" e Martine Aubry, líder do PS francês, considera que é uma vergonha por parte de Sarkozy opor a identidade francesa à imigração.
Que é que isso tem a ver com a mão de Henry? Tudo é política. Foi jogo sujo e a lisura de procedimentos é, ou pretende-se que seja, uma marca identitária da França. Como se viu nas repetições, o jogador desvia com a mão a bola do alcance do guarda-redes, atirando-a para o pé, e centrando para Gallas, que faz o golo. Claro que é batota! Claro que é uma vergonha a França ser apurada desse jeito.
É um exagero dar-se importância nacional a um episódio de futebol? Sou dos que acham que o jogo devia ser repetido e que a Federação Francesa devia ter a coragem de aceitar a proposta da Irlanda, e do próprio Henry, envergonhado, cujo valor de mercado desceu em flecha com a batotice, e contrariar o treinador Domenech, o qual, segundo Cantona, é "o pior que a França teve desde Luis XVI". A comparação só prova que tudo é política, porque Luís XVI, a jogar futebol, só se foi com a própria cabeça depois do episódio da guilhotina.
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