quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ainda vão obrigar-me a ler o Rodrigues dos Santos

Aí temos mais uma vez a Igreja aos berros contra "O Último Segredo" de José Rodrigues dos Santos, e o mais caricato da história é que são eles que falam de "intolerância desabrida". Só falta que o acusem de "comunista inveterado", como fez o Osservatore Romano com Saramago e como fazia aquele outro católico fundamentalista de nome Salazar com todos os que o contrariavam.

Ponto de ordem à mesa: eu não gosto do José Rodrigues dos Santos, nem como apresentador do telejornal nem como escritor. Dos livros dele nunca li mais do que uma meia dúzia de páginas, apesar de saber que alguns, como o Anjo Branco, conta uma bela história, que merecia ser contada.

Mas lembro-me que me acontecia o mesmo com Saramago, quando o Governo de Cavaco Silva, por pressão da Igreja Católica, lhe censurou o Evangelho segundo Jesus Cristo. Aí fui ler. O Evangelho era um espanto e uma inquietação, "O Ano da Morte de Ricardo Reis" o melhor relato de uma cidade, de uma época, de um regime policial, o "Memorial do Convento" um monumento da literatura portuguesa...

Isto é, não fosse o ódio eclesiástico e a cretinice do cavaquismo contra tudo o que mexe (o subsecretário de Estado tem as costas largas!) e teria levado ainda uns anos a redescobrir Saramago. Porque tinha gostado muito do Saramago escritor nos seus editoriais do Diário de Notícias durante o Verão Quente. Mas tinha detestado o seu alinhamento e militância. O seu papel no saneamento dos 24. Entre os quais estava a jornalista, a escritora, a corajosa resistente antifascista, a minha boa amiga, Manuela de Azevedo.

É diferente a minha relação com José Rodrigues dos Santos, que considero um escritor menor. Ainda assim, a diatribe da Hierarquia apenas por ele ter dito o óbvio, que a Igreja vai nua... talvez me faça comprar mais um livro do sujeito. Mesmo que depois tenha de ficar a meio.

Fá-lo-ei porque me revoltam estes donos da verdade única a que temos direito. Porque por muito menos, há apenas uns duzentos anos, um outro escritor, bem mais divertido, morreu nas fogueiras da Inquisiçaõ: António José da Silva, o Judeu. Ah se eles pudessem ainda!

3 comentários:

  1. ...e na opinião de outros devíamos voltar à 1ª república, à perseguição aos clérigos e aos "talassas", à prisão e exílio de jesuítas, etc. A sua noção de liberdade de expressão é todos poderem falar, criticar, insultar, e a igreja calar-se? Não só tem essa legitimidade como faz muitíssimo bem em lançar a sua crítica a um pretensioso Dan Brown de segunda, que tenta passar um romance como uma súmula de "verdades científica" e "factos históricos" lá colocados despreocupadamente. Quanto à Inquisição, cujos poderes penais acabaram no tempo de Pombal nem merece comentários, tão despropositada que é a sua lembrança. Que eu saiba, a Igreja Católica não persegue ninguém, mas sofre perseguições em várias partes do Mundo.

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  2. Em Portugal, são Vocês que perseguem, sempre foram. E cale-se lá com a República que tudo o que pretendeu foi a separação da Igreja do Estado e foi vencida, não durou mais do que 15 anos. Vocês vingaram-se bem: recuperaram todos os privilégios com o Salazar e a Concordata. Que Pio XII celebrou também com o Franco, o Mussolini, o Hitler e o Pétain. Querem voltar ao Index Librorum Prohibitorum?

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  3. Nao creio que um escritor mediocre embora muito vendavel, merece-se que a Igreja perde-se com ele tempo, a menos que haja alguma verdade por pequena que seja escondida!
    Para que fique claro eu sou um catolico praticante que cre em D*us, mas que com estas atitudes vai ficando cada vez menos crente na hierarquia da Igreja Catolica Apostolica e Romana!
    Se nao ha nada escondido porque tanto medo, a verdade vem sempre ao cimo como o azeite!

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