terça-feira, 21 de junho de 2011

"Lições da Argentina" para os nossos "rapazes de Chicago".



Toma posse hoje o Governo de Passos Coelho. Talvez seja a altura de notar que alguma coisa se fez antes, e apesar, da reeleição de Cavaco e da ofensiva que conduziu ao triunfo da direita, que a partir de agora "todo lo quiere y todo lo manda".


Desde os tempos de Salazar que a direita não acumulava tanto poder em Portugal. Tem a Presidência da República, e de que maneira, lembrem-se do discurso da tomada de posse, manda no Governo, a sua vontade é lei na Assembleia, domina as autarquias, consolida-se no ensino (acabaram-se as guerras da avaliação de professores, já tinha sido votado), triunfa na justiça (Paula Teixeira da Cruz esteve com os sindicatos de magistrados e o lógico é que os sindicatos de magistrados estejam agora com ela), faz opinião nos media, que também ganharam no 5 de Junho e é justo que também sejam recompensados, enfim, vai ganhar ainda mais dinheiro nos negócios, incluindo nos "negócios estrangeiros", e é a isto que se chama o relançamento da economia liberal.


Vêm aí "os rapazes de Chicago", em sentido próprio, eu vi a chegada triunfal ao Aeroporto da Portela do Ministro Álvaro Santos Pereira vindo dos States... Eu que sou velho desconfio um bocado destes "rapazes de Chicago". Lembro-me do Chile dos anos 70 em que deram com os burros na água apesar da protecção do ditador Pinochet. E lembro-me ainda mais da Argentina de Carlos Menem, sob a batuta do superministro Cavallo. Uma experiência em tudo semelhante à que se vive em Portugal, com o império do euro e do FMI. Reparem neste relato do New York Times:
  • The Argentine crisis was the consequence of a decade of I.M.F.- and World Bank-sponsored free market economic reforms, which included pegging the peso to the U.S. dollar on a 1 to 1 exchange rate. This all but eliminated the ability to conduct independent monetary policy -- much like the euro arrangement today. All barriers to trade and financial flows were removed, and all state enterprises were privatized. The 1994 privatization of its social security system alone explains Argentina's explosive debt accumulation between 1994 and 2001 and the resulting default.

  • Argentina's policy framework proved too restrictive when a recession set in during the last quarter of 1998. When external sources of funding dried up, Argentina turned to the I.M.F., which recommended the same austerity policies currently being promoted for Greece (and Ireland, Portugal and Spain). The I.M.F.-promoted spending cuts only deepened the Argentine recession, as any introductory macroeconomics student would have predicted. By 2001, the recession had turned into a depression, making accumulated debt impossible to service and resulting in enormous capital flight, a run on deposits and the largest sovereign default in history.
 After the default and the January 2002 devaluation, Argentina's economy continued to contract for only one more quarter. By the second quarter of 2002, Argentina's economy began to grow and did not stop until 2009, when the global financial crisis made its impact felt there. The doom and gloom predictions of what would happen after default never materialized. Furthermore, after defaulting, Argentina no longer needed to access international capital markets, eliminating their stronghold on Argentine economic policy
 
  • Greece (and Ireland, Portugal and Spain) should learn lessons from Argentina's experience. First, the I.M.F. still promotes policies that inevitably make matters worse, demonstrating an inability to learn from past mistakes. Second, default can be a solution, since it can end an unsustainable situation, frees up fiscal resources for more productive use and eliminates the need for access to bond markets. And third, regaining control of the national currency and the ability to conduct independent monetary and fiscal policies are essential for economic recovery.
 Pois aí fica a história de um problema e de uma solução: temos o que aconteceu à Argentina nas mãos dos falcões do liberalismo, sem soberania monetária e à mercê do dólar. E temos a recuperação quando os argentinos deixaram de querer governar com o FMI. "Pensa, Panchito, pensa".

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