sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Até que enfim: "Médicos perdem hoje a guerra dos genéricos"

Será desta? A prescrição por denominação comum internacional é obrigatória na Europa há mais de 20 anos, onde o médico apenas se preocupa da substância activa para tratar a doença, não age como defensor exclusivo, propagandista, beneficiário, de nenhuma marca em particular.

Será diferente desta vez? É uma guerra que em Portugal vem dos tempos de Leonor Beleza, que também por isso teve o lobby dos médicos, e das multinacionais dos medicamentos, à perna. Foi corrida. Por Cavaco Silva. O mesmo que ainda há um ano vetou um diploma nesse sentido, que tivera a oposição da Ordem dos Médicos, pois claro, mas também do PSD e do CDS.

Será diferente desta vez? Foram 25 anos perdidos, 25 anos a financiar interesses esconsos, 25 anos a afundar o SNS e a tirar do bolso dos utentes, tratados como incapazes, sem o direito de serem informados e fazerem as suas escolhas.

Será desta? A Ordem, os laboratórios (e as agências de viagens?), vão continuar ainda algum tempo a tentar semear o pânico junto dos doentes. E na Presidência da República está a mesma personalidade que sempre tem aparecido nesta guerra quando é preciso, como último recurso. Sendo que não há almoços grátis, em troca de quê?

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Pancadaria no Parlamento italiano

Um deputado italiano, Gianfranco Fini, líder do Partido Nacional e presidente do Parlamento revelou num programa televisivo que a mulher de outro deputado ─ o líder da Liga Norte, Humberto Bossi, uma espécie de Alberto João Jardim italiano ─ se reformou aos 39 anos. Os separatistas da Liga Norte reagiram com uma arruaça parlamentar, na imagem, no debate sobre o aumento da idade da reforma. Não que não seja verdade. Só que não devia ser dito. A "omertà", pelos vistos, não é só na máfia. Alguns exigem que se aplique aos deputados.

Ainda vão obrigar-me a ler o Rodrigues dos Santos

Aí temos mais uma vez a Igreja aos berros contra "O Último Segredo" de José Rodrigues dos Santos, e o mais caricato da história é que são eles que falam de "intolerância desabrida". Só falta que o acusem de "comunista inveterado", como fez o Osservatore Romano com Saramago e como fazia aquele outro católico fundamentalista de nome Salazar com todos os que o contrariavam.

Ponto de ordem à mesa: eu não gosto do José Rodrigues dos Santos, nem como apresentador do telejornal nem como escritor. Dos livros dele nunca li mais do que uma meia dúzia de páginas, apesar de saber que alguns, como o Anjo Branco, conta uma bela história, que merecia ser contada.

Mas lembro-me que me acontecia o mesmo com Saramago, quando o Governo de Cavaco Silva, por pressão da Igreja Católica, lhe censurou o Evangelho segundo Jesus Cristo. Aí fui ler. O Evangelho era um espanto e uma inquietação, "O Ano da Morte de Ricardo Reis" o melhor relato de uma cidade, de uma época, de um regime policial, o "Memorial do Convento" um monumento da literatura portuguesa...

Isto é, não fosse o ódio eclesiástico e a cretinice do cavaquismo contra tudo o que mexe (o subsecretário de Estado tem as costas largas!) e teria levado ainda uns anos a redescobrir Saramago. Porque tinha gostado muito do Saramago escritor nos seus editoriais do Diário de Notícias durante o Verão Quente. Mas tinha detestado o seu alinhamento e militância. O seu papel no saneamento dos 24. Entre os quais estava a jornalista, a escritora, a corajosa resistente antifascista, a minha boa amiga, Manuela de Azevedo.

É diferente a minha relação com José Rodrigues dos Santos, que considero um escritor menor. Ainda assim, a diatribe da Hierarquia apenas por ele ter dito o óbvio, que a Igreja vai nua... talvez me faça comprar mais um livro do sujeito. Mesmo que depois tenha de ficar a meio.

Fá-lo-ei porque me revoltam estes donos da verdade única a que temos direito. Porque por muito menos, há apenas uns duzentos anos, um outro escritor, bem mais divertido, morreu nas fogueiras da Inquisiçaõ: António José da Silva, o Judeu. Ah se eles pudessem ainda!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Depois da Primavera árabe o Outono islamista

Os islamistas triunfam na Tunísia, contra "a pesada herança" laica do regime anterior, culpado designadamente de ter despenalizado o aborto, enquanto na Líbia é proclamada "a sharia" e o primeiro exemplo que o líder dos rebeldes dá dos crimes de Kadafi é a passada limitação à poligamia, que readquire de novo todo o esplendor em nome do Corão.

Eu não sei se os aviões da NATO bombardearam hospitais e populações civis para derrotar Kadafi, se o ditador apalhaçado foi morto com requintes de crueldade semelhantes aos infligidos ao ditador Mussolini em 1945. O que não tenho dúvidas, porque salta à vista, é que "os aliados" jogaram à roleta russa com a Primavera líbia e se pretendiam abrir caminho a uma democracia mais respeitadora dos direitos fundamentais do que os regimes que ajudaram a derrubar o objectivo saiu-lhes furado.

Como no Afeganistão quando apoiaram os talibãs, de todas as maneiras e feitios, contra o regime progressista, laico, que se seguira à ocupação soviética. Os talibãs fizeram do Afeganistão um refúgio, e uma base, Al Qaeda, para os terroristas islâmicos? Pois chamem-lhes "moderados", convençam-se disso, e esperem-lhe pelo Inverno, "do nosso descontentamento", pela queda da Argélia e Marrocos, também, nas mãos dos fundamentalistas islâmicos.

"Os aliados" de hoje  ─ Obama, Cameron, Sarkozy ─ estão a ser tão ingénuos com os rebeldes muçulmanos como Churchill e Roosevelt a lidar com Estaline. Será que ainda há volta a dar-lhe? Esperemos sentados.