quarta-feira, 6 de julho de 2011

Sacrificámos as golden shares em troca de quê?

Que é que Portugal ganha com o harakiri que o Governo acaba de fazer na questão das golden shares? Qual é a vantagem de termos um Ministro das Finanças que faz questão em aparecer como pau-mandado de Durão Barroso e do directório do Tribunal dos grandes? E qual é a pressa, que raio de soberania é esta? O Governo de Sócrates, ao menos, resistiu enquanto pôde.  honra lhe seja. Porque não vale a pena disfarçar: a partir de agora, como logo destaca a agência chinesa Xinhua, without golden shares, any national or foreign investor would be able to buy these companies.

Esse é que é o problema, o resto é areia que se atira para os olhos das pessoas. Não vale que o Tribunal Europeu decidiu está decidido. Que não é assim, por exemplo, com a França, a Alemanha, a Itália, e muito menos com o Reino Unido. Em França, assisti a isso, nem são precisas golden shares: sempre que se perfila a possibilidade de uma grande empresa francesa ser comprada por estrangeiros, o Ministro respectivo chama lá os interessados e diz-lhes: "Não queremos, parece mal, bem sabemos que têm esse direito, mas nós não gostamos de Vocês se fizerem isso, acabou-se e livrem-se de insistir".

Os grandes da Europa, que o Tribunal Europeu protege, os "padrinhos", de que Durão Barroso é o homem de confiança, resolvem assim o problema das suas empresas estratégicas: com uma "proposta" que ninguém pode recusar". Os pequenos, todos (Portugal estava até agora bem acompanhado) fazem resistência passiva, promovem a reestruturação desses direitos especiais, invocam um interesse estratégico fundamental.

A pressa do Governo Passos Coelho em agradar a Bruxelas chega a parecer obscena. E sobretudo não serve para nada. Horas depois do anúncio de Víctor Gaspar e das justificações esfarrapadas que arranjou estava uma agência de rating a atirar-nos para o lixo. Roma não paga a traidores.

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